quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Sem Medo, Nada Funciona: a verdade sombria por trás da produtividade



Estamos a viver uma época em que o medo já não é apenas um sentimento: tornou-se uma infraestrutura invisível, uma tecnologia silenciosa que organiza a vida, o trabalho e até os sonhos das pessoas. Sob a aparência de “gestão”, “produtividade” e “eficiência”, escondemos uma máquina que opera na sombra,  uma verdadeira máquina que devora a vitalidade humana e espiritual em nome da sobrevivência. Um sistema que parece ganhar vida e converte mentes criativas em verdadeiros serviçais.

Krishnamurti diria que o medo é um movimento do pensamento.
Krenak diria que o medo é o sintoma de uma humanidade que deixou de sonhar.
Mbembe diria que o medo é a política que governa corpos, territórios e futuros.

E todos estariam certos.

O medo como forma de governo

O mundo contemporâneo transformou o medo em método.
Gestão é, muitas vezes, outra palavra para administração da ansiedade.
Gestores podem toranr-se facilmente em capatazes de um sistema que eles mesmos desconhecem. É preciso uma gestão que seja libertadora.

Gerimos prazos como quem gerencia assombrações.
Gerimos pessoas como quem administra riscos biológicos.
Gerimos recursos como quem controla uma pandemia emocional.

A “boa gestão” tornou-se a arte de manter todos suficientemente assustados para produzirem, mas não assustados o bastante para fugirem. É um equilíbrio macabro que revela o fracasso interior da nossa civilização.

Mbembe lembra-nos que vivemos num regime que organiza vidas e mortes: uma “necropolítica”.
No mundo corporativo, não se mata o corpo: mata-se o sentido, mata-se a imaginação.
Mata-se devagar. Devagar o suficiente para que se produza muito antes da morte final. 

O humano reduzido ao algoritmo do medo

Krishnamurti observou que a mente humana está condicionada há milênios.
Hoje, esse condicionamento não é apenas psicológico:
é sistémico, tecnológico, maquínico.

Somos instruídos a acreditar que:

  • se não fores produtivo, deixas de merecer existir;

  • se não corres, ficas para trás;

  • se não entregas, és descartável;

  • se descansas, és suspeito.

O medo tornou-se a moeda espiritual da modernidade.

E o mais aterrador: nós internalizamos o opressor.
O chefe já não está no escritório.
Mora dentro da cabeça.

“Terra é gente”  e a gestão esqueceu de viver

Ailton Krenak diz: Terra é gente.”
Ou seja, não há fronteira entre humano e natureza.
Mas a gestão moderna opera como se fôssemos máquinas separadas do cosmos.

Gerimos projetos, mas não gerimos o espírito.
Gerimos cronogramas, mas não gerimos o sonho.
Gerimos KPI’s, mas esquecemos do céu.

Fomos amputados da vida.
Desconectados do rio, da noite, da dança, do sagrado.

Krenak chamaria isso de humanidade em coma.

E é por isso que temos medo:
porque esquecemos que pertencemos a algo maior do que nossos cargos.

A grande mentira da segurança

O medo nasce da busca desesperada por segurança.

Mas que segurança existe num mundo que está a desabar em crises ecológicas, espirituais e políticas?
Que segurança existe em empregos que desertificam a alma?
Que segurança existe numa vida que perdeu o riso?

A promessa de segurança é o truque mais brutal da gestão contemporânea.
Porque ela pede a tua liberdade em troca de uma proteção que nunca chega.

Krishnamurti diria:

“Quando você busca segurança no que é instável, está a criar a semente do medo.”

E quase tudo no nosso mundo é instável.

Como sair dessa prisão? Não por métodos. Mas por rasgo.

Não há técnica de gestão capaz de libertar o humano do medo.
Porque o medo não é um problema técnico.
É um problema ontológico.

O que precisamos é de um rasgo existencial.

Uma insurreição do espírito contra o condicionamento.

  • Sair da gestão como controle.

  • Entrar na gestão como cuidado.

  • Sair da produtividade.

  • Entrar no encantamento.

  • Sair da lógica do medo.

  • Entrar na possibilidade de estar vivo.

Krenak chamaria isso de adiar o fim do mundo.
Krishnamurti chamaria de libertar-se da autoridade interna.
Mbembe chamaria de recusar o destino imposto pelos dispositivos de poder.

Um novo começo: gestão como um ato poético

Talvez a gestão do futuro não seja um manual.
Seja um ritual.

Não um conjunto de tarefas.
Mas um modo de conversar com o mundo.

Talvez gerir seja:

  • Sentar-se com a equipe como quem se senta em volta da fogueira.

  • Pausar o trabalho para ouvir a chuva.

  • Criar espaços onde ninguém precisa ter medo.

  • Inventar novos futuros que não cabem em relatórios.

Talvez o gestor do futuro não seja um técnico.
Seja um guardião do sonho.

Porque quando o medo desaparece, o humano reaparece.
E quando o humano reaparece, a gestão deixa de ser uma prisão
para tornar-se uma arte de continuar vivo num mundo que tenta nos adormecer.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

O PREÇO DA DISTRAÇÃO: COMO O ENTRETENIMENTO SE TORNOU A NOVA MÁQUINA DE ALIENAÇÃO EM ÁFRICA

Da celebração do futebol ao poder das influenciadoras, um retrato de como o lazer se converteu num instrumento de poder simbólico e económico no continente.


A distração inocente que se torna mecanismo de controlo

O entretenimento sempre ocupou um espaço aparentemente inofensivo na vida social. Uma pausa no trabalho, um momento de leveza, uma necessidade humana de descanso. É o que sociólogos como Zygmunt Bauman chamam de “intervalos de fuga” ou pequenas suspensões do peso da vida pragmática.

Mas, desde Marx ao pensador contemporâneo Byung-Chul Han, existe um alerta antigo: a distração pode transformar-se em alienação quando deixa de ser um descanso e passa a operar como uma fábrica de ilusões que desvia a atenção das contradições reais da sociedade.

Alienação: do truque de mágica ao palco global

Na alienação, explica Marx em Manuscritos Econômico-Filosóficos, o indivíduo perde consciência da sua própria condição material e vive num estado fabricado por forças externas. É o truque do ilusionista: enquanto o público olha para a mão que brilha, a verdadeira operação ocorre no lado oculto do palco.

Hoje, essa operação é sofisticada, global e altamente lucrativa.

Quando o futebol deixa de unir e passa a anestesiar

O fenómeno Messi em Angola e Gabão

Em 2025, Angola gastou milhões de fundos estatais para levar Lionel Messi a um jogo festivo. O Gabão já o fizera anos antes para inaugurar um estádio. A chegada do jogador que foi tratado quase como figura mitológica e mobilizou multidões, abafou críticas sociais e produziu um espetáculo que, segundo analistas como Achille Mbembe, funciona como um “grande ritual de despolitização”.

Para a população, foi festa.
Para as elites, uma oportunidade de prestígio.
Para Messi, apenas negócio.

Enquanto isso, os indicadores sociais continuam preocupantes: mortalidade infantil elevada, serviços básicos insuficientes, disparidades gritantes.

O entretenimento, nesta lógica, opera como um óleo que suaviza o atrito entre governados e governantes permitindo que a máquina continue a rodar.

O império das influenciadoras e o poder invisível sobre comportamentos

De Angola para São Tomé: a cultura da imitação global

Entre jovens santomenses, influenciadoras angolanas conquistam espaço equivalente ao de líderes culturais. Sotaques, estéticas, modos de vida e até expectativas de relacionamento são moldados por criadoras de conteúdo que, por sua vez, imitam influenciadoras brasileiras, que imitam influenciadoras norte-americanas.

O ciclo é global, vertical e altamente rentável.

Pierre Bourdieu chamaria isto de dominação simbólica: uma forma de poder que atua não pela força, mas pela internalização daquilo que parece natural ou desejável.Nenhum presidente, nem mesmo no auge do Partido Único, exerceu tanta influência cultural sobre jovens santomenses quanto as influenciadoras angolanas, tenho observado. talvez esteja generalizando por uma questão retórica. Mas a sensação é de que existe uma alienação grave, uma disputa pela mente dos jovens onde o país sai derrotado diante de uma agenda global.

O entretenimento tornou-se o “partido invisível” que legisla o comportamento, o consumo e até o imaginário social.

A advertência de Platão e a fábrica moderna do desejo

Na República, Platão expulsa os artistas por acreditarem que produzem sombras e desviam o povo da verdade. A crítica parece arcaica e até percebemos como a indústria cultural atual molda perceções, desejos e valores de forma profunda.

Hoje, a alienação manifesta-se sob novas formas:

  • hiperssexualização como linguagem dominante,

  • culto ao corpo e aos objetos,

  • romantização de estilos de vida inalcançáveis,

  • consumo como promessa de pertencimento.

Byung-Chul Han descreve essa era como a do “psicopoder”: não é necessário reprimir o cidadão — basta entretê-lo.

A África entre a esperança suspensa e o barulho constante

Em vários países africanos, assiste-se a um duplo vazio:

  • a perda do nacionalismo crítico das gerações anteriores,

  • a ausência de um projeto claro de futuro.

Nesse intervalo, cresce uma sociedade de consumo barulhenta, medicada, saturada por estímulos — onde se idolatra quem explora, se celebra quem acumula e se esquece das condições estruturais que mantêm a maioria na pobreza.

A estética old money romantizada por jovens pobres torna-se um símbolo dessa inversão total de consciência.

Como lembram economistas como Thomas Piketty e Ha-Joon Chang, o capital depende de trabalho barato e recursos baratos.
A ideologia — difundida como entretenimento — existe para transformar esta desigualdade sistémica numa paisagem natural.

Conclusão: o entretenimento como nova pedagogia da submissão

O entretenimento, quando capturado por grandes corporações e elites políticas, deixa de ser descanso e torna-se uma pedagogia subtil de conformismo, ensinando populações a:

  • admirar aquilo que as oprime,

  • desejar aquilo que nunca possuirão,

  • aceitar como natural um sistema que as empobrece,

  • confundir consumo com liberdade.

Não se trata de culpar o futebol, a música ou as redes sociais. Mas de revelar a engrenagem que opera por trás do riso, da dança, da distração e do espetáculo.

A pergunta que permanece é simples e profundamente política:

Quando a distração se torna o centro da vida, quem realmente ganha com isso?

domingo, 16 de novembro de 2025

Quem ganha com a ideia de que São Tomé e Príncipe está em declínio?

A nova moda do pessimismo nacional

Dizer que “São Tomé e Príncipe está em declínio” tornou-se quase uma tendência nacional. O discurso repete-se nas conversas, nas redes sociais e até nos debates públicos. Muitos evocam o passado colonial com certo saudosismo, como se aquele tempo fosse um período de ordem perdida.
Mas o curioso é: todos reclamam, ninguém assume responsabilidade. A culpa é sempre difusa e depositada em abstrações como “mentalidade”, “cultura” ou “corrupção”, como se o país sofresse um desastre natural e não decisões humanas.

Quem controla a narrativa do declínio?

A questão raramente discutida é esta: quem ganha com a ideia de que o país está irremediavelmente perdido?

Grande parte da produção desse discurso parte das elites antigas e novas que historicamente moldam as percepções sociais. São esses grupos que determinam o que é visto como falha moral, como progresso ou como atraso. A narrativa do declínio funciona como uma espécie de marketing político e social, onde o país é um produto em deterioração e os narradores se apresentam como observadores inocentes do desastre. Até como revoltados e não como vencedores de toda essa desorganização.

O privilégio que se reconhece… e que se reproduz

Quem cresceu entre privilégios, como parte da elite académica ou económica, sabe que o acesso a oportunidades nunca é neutro. Reconhecer esse privilégio tornou-se até sinal de consciência social. Mas, na prática, os mesmos circuitos privados de benefício continuam a ser reproduzidos.
As elites assumem ter “tido sorte”, mas omitem como continuam a reacender essa mesma sorte para os seus — nos empregos, nas escolas, nos círculos fechados de influência.

Enquanto isso, criticam o “povo” a partir de restaurantes caros, atribuindo comportamentos de sobrevivência à “mentalidade”. O que falta dizer é que a pobreza não é um traço cultural, mas uma condição material. Uns até gritam que precisamos disciplinar os pobres, claro, o bom uso da vara, como dizia Salomão em Provérbios. 

A nova elite da era digital

Se antes a elite santomense buscava legitimidade através do discurso nacionalista e da erudição, hoje o poder mudou de mãos e de estética.
A nova elite económica ascende pelo consumo: carros de luxo, moradias ostentatórias, viagens exibidas no TikTok e Instagram. A influência cultural já não se faz em saraus, mas em vídeos curtos, métricas de engajamento e exibições constantes de riqueza.

Curiosamente, é também esta elite que mais repete a ideia do “declínio nacional”. Mas raramente menciona que ela própria molda, direta ou indiretamente, o destino económico e simbólico do país.

Uma disputa antiga: elites e política

São Tomé e Príncipe sempre foi marcado por uma disputa entre elites. Não apenas económicas, mas também culturais e políticas. E ao longo das décadas, essas disputas atravessaram partidos, instituições e famílias.
O país, pequeno e dependente, sempre foi vulnerável à importação de modelos externos: primeiro os portugueses, depois os americanos, e agora os modelos empresariais neoliberais do Vale do Silício démodé.

Com isso, difundiu-se a ideia de que “tudo depende da mentalidade”. Como se um país insular, de economia reduzida, pudesse ultrapassar limitações estruturais apenas com força de vontade.

O mito neoliberal da ascensão individual

Hoje, muitos defendem que os pobres devem simplesmente “empreender”, “mudar a mentalidade” e “pensar grande”. A promessa é sedutora: basta querer muito para prosperar.
Porém, essa retórica ignora desigualdades profundas, o contexto internacional adverso e o fato de que ascender socialmente num país pequeno é muito mais condicionado por rede, nome e contexto do que por mérito individual.

O resultado é um discurso moralizante que responsabiliza os vulneráveis pelos limites que não criaram. 

Por sussurro quase cristão, ouço uma voz:

“Pobres, levantem e enriqueçam! Empreendam! Não sejam preguiçosos… é apenas isso que vos separa de Elon Musk ou Jeff Bezos.”

A verdadeira tese: o problema não é o país — é quem narra o país

Para além do barulho, é preciso esclarecer:
o problema não é que São Tomé e Príncipe “vai mal”; o problema é quem diz que vai mal, e porque esse discurso lhes serve.

A narrativa do declínio cumpre várias funções:

  • Oculta responsabilidades de elites que sempre controlaram oportunidades;

  • Legitima privilégios antigos e novos;

  • Desvia o debate das condições estruturais para a suposta falha moral dos pobres;

  • E reforça uma visão neoliberal onde problemas sociais são tratados como defeitos individuais.

Enquanto continuarmos a aceitar essa narrativa sem questionar os seus autores, confundiremos crítica com fatalismo e diagnóstico com propaganda.

Conclusão: menos profetas da decadência, mais responsabilidade real

São Tomé e Príncipe não precisa de novos discursos de desgraça. Precisa de um debate honesto sobre quem molda as narrativas, quem beneficia delas e quem fica sempre invisível dentro do país que se discute.
A mudança começa quando deixarmos de romantizar o declínio e passarmos a analisar o papel dos que têm poder para transformar ou perpetuar o estado das coisas.

certa vez vi como Thomas Sowell alertava que muitos intelectuais não enfrentam responsabilização real pelas consequências de suas ideias, eles podem estar errados, inovar ideias perigosas, mas raramente pagam o preço prático por isso.

Um médico erra e o paciente perde a vida; um mecânico falha e o carro não anda. Já muitos dos que moldam opiniões em artigos, conferências ou redes sociais podem propagar diagnósticos simplistas sem enfrentar as consequências práticas.
Alguns fazem-no a partir do conforto da diáspora, outros movidos por interesses próprios, outros ainda pela cegueira social que impede de ver o país real aquele que existe para além das bolhas de privilégio.

Se quisermos avançar, é preciso substituir o fatalismo performativo por responsabilidade concreta. Menos discursos sobre a decadência nacional e mais compromisso com a verdade, com o contexto e com a urgência de transformar aquilo que durante décadas foi apenas comentado.



sexta-feira, 24 de outubro de 2025

A Juventude dos PALOP: Do Hustle Neoliberal ao TikTok da Vergonha

Por um Correspondente Desiludido em São Tomé

Em plena era digital, a juventude dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) parece ter trocado as barricadas da luta anticolonial por mantras de autoajuda importados do Vale do Silício. Esqueçam Amílcar Cabral, o guineense que sonhava com unidade africana contra o jugo português, hoje, o herói é o "empreendedor" que promete virar Bill Gates com um smartphone e muita "disciplina". Que ironia: enquanto Cabral alertava para a exploração coletiva, esta geração acha que o colonialismo acabou e bastam dancinhas no TikTok para enriquecer.

O Hustle Escondido na Hiperssexualização

Mas vejamos o verdadeiro "hustle" que pulula nas redes: uma vulgarização grotesca do corpo feminino africano, transformado em mercadoria barata para likes. O TikTok, esse oráculo neoliberal, revela o espetáculo da idiotice. Temas como pobreza e desigualdade reduzidos a piadas de mau gosto. Em Angola e Moçambique, importam reality shows americanos como se fossem cultura própria, expondo celebridades em rodopios de nada. Adeus Valete, Azagaia ou Pai Grande o Poeta, vozes que denunciavam o sistema; olá endless scrolling, onde cérebro homogenizado repete slogans como se fossem revelações divinas. Thomas Sankara, o burquinense que pregava soberania e rejeitava o consumismo ocidental, deve estar se revirando no túmulo ao ver esta alienação.

Políticos Showmen: Ideologia? Só se for de Efeito

Os políticos, outrora ideólogos, viraram showmen à la Trump, agora frases de efeito no lugar de planos. A pobreza, escândalo coletivo para Kwame Nkrumah, o ganense que lutava por pan-africanismo, agora é "batalha individual". Sucesso? Garantido com mindset certo! Eles dançam para o algoritmo, inflamam polêmicas para engajamento, ignorando flagelados. Em São Tomé, livrarias sumiram; cultura fica para expatriados e burguesia que entende educação. A juventude? Reza por vistos, fugindo em "navios negreiros" modernos, para depois vangloriar senzalas em bairros sociais europeus, enquanto extrema-direita promete pisar em todos e deixá-los naufragar no mediterrâneo sem um pingo de dignidade. Ou voam para o médio oriente para enfrentarem o sistema cafala ou de desumanização legal.

Arte como Escapismo: Sexo, Drogas e Musk

A arte reflete o caos: shows consumíveis, letras de sexo, drogas e lifestyles inatingíveis. Convencem que a diferença entre Elon Musk e um africano desesperado é só "mindset", pura propaganda neoliberal. Artistas, escravos de aplausos, alienam o povo. "Comeram a minha banana" vira debate nacional, enquanto extermínio por idiotização avança. Carros maiores, TVs maiores; livros? Extintos. Samora Machel, o moçambicano que combatia o analfabetismo como arma colonial, veria nisto traição.

O Inimigo Invisível e a Falta de União

Ativistas de outrora viam o Inimigo claro; hoje, proxies e medrosos mantêm poder via acordos ignotos com capital estrangeiro. Pobreza gera "cultura da pobreza": cidades sujas como "nossa condição definitiva". Utopia morreu; viramos cemitério para saqueadores de terras raras e recursos. E os PALOP? Incapazes de cooperação simples sem intermediários gananciosos. Por que não negócios entre nós? Por que voos de São Tomé a Maputo, Bissau ou Praia são missão impossível? Éramos "povos irmãos" que apoiavam Cuba embargada, viam Congo ruir sem braços belgas. Agostinho Neto, o angolano poeta da independência, clamava unidade, onde estão?

A Bolha da Ignorância: Influencer's sim, Malangatana não

Notícias de povos irmãos? Inexistentes na bolha santomense. Sabíamoss mais de Saramago que de Malangatana. Hoje sem Saramago, nem Malangatana. Juventude ignora história, conhece influencers sexuais, músicas de quinta que destroem família africana e busca pelo conhecimento. Intimida quem quer sair da ignorância. Eduardo Mondlane, o moçambicano assassinado por lutar educação libertadora, diria: voltamos à estaca zero, escravos voluntários do algoritmo. Que esquerda africana desperte antes que o hustle nos engula de vez. A esquerda perdeu o discurso de libertação diante d eum público que quer ter os carros que as suas celebridades têm, querem possuir as mulheres seminuas naqueles videoclipes sensuais.

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

A Ilusão Romântica de África: Um Apelo à Unidade Geopolítica

Romantismo como Ideologia: A Falsa Consciência do Proletariado Africano

O romantismo do século XVIII, articulado por pensadores como Goethe, foi uma reação às contradições materiais do capitalismo nascente, que, segundo Karl Marx, aliena o trabalhador do seu labor, transformando relações humanas em mercadorias. Em África, perpetuamos uma falsa consciência romântica, um refúgio ilusório em espiritualidades e narrativas ancestrais, enquanto o imperialismo global nos subjuga com tecnologias disruptivas: inteligência artificial, armamentos avançados,  e mercados que extraem mais-valia do nosso suor. Este romantismo é ideologia burguesa, um véu que obscurece a luta de classes, como Marx alertou em O Capital.

A pobreza africana não é destino espiritual, mas produto da exploração capitalista. Como Sindika Dokolo afirmou: “No mundo capitalista, o dinheiro é o argumento supremo.” Hospitais, não orações, salvarão nossas crianças. A acumulação primitiva global drena nossos recursos, deixando-nos na periferia do sistema-mundo. Precisamos romper com a alienação ideológica e abraçar a praxis revolucionária para transformar as condições materiais de produção, como Marx e Engels exigiram no Manifesto Comunista.

A Herança da Esquerda Africana: Cabral, Nkrumah e a Luta de Classes

Recordemos a esquerda marxista que incendiou África com a chama da libertação! Amílcar Cabral, em A Arma da Teoria, ensinou-nos: “Não mintam ao povo, exponham as verdades da opressão!” Sua análise dialética do colonialismo como extensão do capitalismo inspirou guerrilhas que derrotaram impérios. Kwame Nkrumah, em Consciencismo, proclamou a necessidade de um socialismo pan-africano: “A unificação de África sob um governo socialista é a única via para a emancipação!” Estes gigantes forjaram independências, unindo teoria marxista às realidades africanas.

Hoje, essa esquerda foi diluída por distrações burguesas: debates sobre pronomes, representatividade simbólica ou legalização de drogas como “espiritualidade”. Essas questões, embora válidas, desviam-nos da luta central: a apropriação dos meios de produção e a soberania económica. A direita, por sua vez, mascara seus interesses de classe com retórica religiosa e patriotismo vazio, carecendo de estratégias para o desenvolvimento, como Marx previu ao criticar a burguesia em A Ideologia Alemã. Então, é hora de reavivar a luta de classes!

África na Periferia do Capitalismo Global: Um Chamado à Ação

Na perspectiva marxista, África permanece na periferia do sistema capitalista global, como Immanuel Wallerstein descreveu no Sistema-Mundo Moderno. Somos fornecedores de matérias-primas e mão de obra barata, estereotipados como terra de pobreza, corrupção e guerras, enquanto nossa ancestralidade é fetichizada como commodity cultural. Excluídos das mesas de poder, como o G20 de Joanesburgo em novembro de 2025 – enfrentamos uma nova partilha de África. A corrida por terras raras e recursos estratégicos intensifica-se, com potências como China, EUA e Europa disputando nosso solo. Dados do Banco Mundial indicam que a dívida africana excede 1,1 trilhão de dólares, enquanto a instabilidade geopolítica e tarifas protecionistas agravam nossa marginalização.

A Área de Livre Comércio Continental Africana (AfCFTA) promete crescimento de 4,3% do PIB, mas sua implementação é travada pela fragmentação. Moedas como o metical, kwanza ou cedi são irrelevantes globalmente, e a livre circulação no continente é negada aos próprios africanos. Como Marx alertou, o capital fomenta divisões para perpetuar a dominação. O colonialismo, que Lenin descreveu como a fase superior do capitalismo, renasce em formas neocoloniais. Sem ação, seremos novamente um quintal imperialista.

Revolução Pan-Africana: Unidade Socialista ou Subjugação!

Portanto, Marx nos ensina: “A história da humanidade é a história da luta de classes!” Não aceitemos a miséria imposta pelo capital global. Abandonemos o romantismo ou a falsa consciência que nos paralisa! Sigamos Cabral: “Digam a verdade ao povo!” E Nkrumah: “África deve unir-se sob o socialismo!” Em 2025, com o G20 e a União Africana em foco, exijamos:

  1. Integração Económica Revolucionária: Apropriação coletiva dos recursos naturais e meios de produção, rompendo a dependência neocolonial.

  2. Solidariedade Anti-Imperialista: Fortalecer alianças via BRICS e Sul Global, como preconiza o materialismo histórico.

  3. Infraestruturas Socialistas: Investir em saúde, educação e transporte para emancipar o proletariado africano.

  4. Poder Militar Pan-Africano: Uma força coletiva para defender nossa soberania contra intervenções imperialistas.

A União Africana deve ser a vanguarda da revolução, promovendo a solidariedade de classe. O poder económico, político e militar é nossa arma! Como Marx proclamou: “Os proletários nada têm a perder senão suas correntes!”. O outro lado não assistirá passivo os seus recursos fugirem. Eles crirão engodos, pois têm seus interesses em causa. Porém, acredito que na nossa impossibilidade atual de defender-nos devemos buscar acordos que não construam elites que bebam whiskye, mas sim um povo que tenha água potável como Sankara sabiamente percebeu. 

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

O Grande Baile do Nazismo: Remix Europeu, Latino e Agora com Passos de Dança Colonial

 

Ah, o nazismo! Essa relíquia charmosa do século XX, que todos pensávamos ter sido convenientemente incinerada junto com os arquivos de Hitler em 1945. Que ingenuidade a nossa, não é? Afinal, quem diria que uma ideologia baseada em bigodes ridículos, discursos histéricos e um amor desmedido por uniformes pretos poderia sobreviver às bombas aliadas e aos julgamentos de Nuremberga? Pois é, queridos leitores, o nazismo não morreu, ele apenas tirou umas férias prolongadas na sombra, esperando o momento perfeito para voltar à cena europeia com um novo guarda-roupa: ternos elegantes, tweets inflamados e um verniz de "preocupação com a imigração". E agora, em 2025, com a economia aos trancos, refugiados batendo à porta e a União Europeia parecendo um barco furado, as condições estão ideais para o grande comeback ou a volta dos que nunva foram. Vamos rir juntos dessa piada cruel, enquanto exploramos como o nazismo se espalhou pela Europa como um vírus gripal, inspirou cópias baratas na América Latina e, oh ironia das ironias, renasce hoje como o "novo fascismo" em partidos que juram ser apenas "patrióticos" ou defensores fos valores da família tradicional. E para nós, africanos? Preparem o arroz e os feijões, porque o pior pode estar a caminho: um colonialismo 2.0, mais violento e excludente do que nunca.

A Expansão Europeia do Nazismo: Uma Viagem Turística pelo Ódio Organizado

Lembrem-se, por favor, da década de 1930: a Alemanha, ainda de ressaca com o Tratado de Versalhes, inventa o Partido Nacional-Socialista (NSDAP) como se fosse a solução mágica para todos os males: desemprego, judeus, comunistas, tudo num só pacote! Hitler, com o seu carisma de vendedor de aspiradores, exporta essa maravilha ideológica pela Europa inteira, prometendo um "espaço vital" que basicamente significava "roubar tudo dos vizinhos". Que sucesso! Na França, o Partido Popular Francês (PPF) de Jacques Doriot aplaude de pé, adotando o antissemitismo como se fosse a nova moda parisiense. Na Grã-Bretanha, Oswald Mosley funda a União Britânica de Fascistas (BUF) em 1932, desfilando com camisas negras e sonhando com um império britânico "purificado", ah, o bom e velho tempo em que o fascismo era exótico!

E não para por aí: na Roménia, a Guarda de Ferro de Codreanu mistura misticismo com matanças, como um cocktail letal. Na Hungria, o Partido da Cruz Flechada de Szálasi implementa políticas que fariam Himmler corar de inveja. Na Espanha, a Falange de Primo de Rivera alia-se a Franco, recebendo aviões alemães como presente de aniversário durante a Guerra Civil. Até na Noruega, Países Baixos e Suécia, partidos nacional-socialistas brotam como cogumelos após a chuva, colaborando alegremente com a ocupação nazi. Era uma verdadeira fraternidade europeia: propaganda, milícias e um ódio partilhado por "inferiores". Quem poderia imaginar que isso acabaria mal? Ironia suprema: o nazismo uniu a Europa... na destruição.

Na América Latina: O Nazismo Vai de Férias Pagas

Mas o nazismo, esse turista incansável, não se contentou com a Europa. Cruzou o Atlântico para a América Latina, onde ditadores locais o receberam com tapetes vermelhos e asas de galinha. Durante a guerra, embaixadas alemãs espalhavam panfletos antissemitas no Brasil, Argentina e Chile como se fossem convites para uma festa. Após 1945? Ouro puro! Eichmann e Mengele fogem para a Argentina de Perón, que os trata como heróis de férias. Partidos? Ora, o Movimento Integralista Brasileiro (AIB) de Plínio Salgado, com uniformes verdes e saudações hitlerianas, tenta um golpe em 1938, quase um remake tropical de Munique!

Na Argentina, o Partido Nacionalista Tácito sussurra teorias conspiratórias; na Colômbia, o Movimento Latino Nacional de Carlos Lehder (o amigo de Escobar) grita supremacia branca nos anos 80. No Chile, o Movimento Nacional-Socialista local ecoa Berlim, e ex-nazis como Klaus Barbie treinam ditaduras bolivianas e paraguaias em torturas "eficientes". Esses movimentos moldaram regimes militares nos anos 70 e 80, com desaparecimentos que pareciam saídos de um manual da Gestapo. Ironia? Enquanto a Europa se "reconstruía" com o Plano Marshall, a América Latina importava o pior do Velho Mundo, misturando-o com desigualdades locais para um fascismo com sabor a samba e tango.

O Novo Fascismo na Europa Atual: Partidos "Patrióticos" com um Toque Retrô

E agora, o gran finale irónico: o nazismo volta, mas com rebranding! Não mais suásticas, isso seria démodé , mas discursos "razoáveis" sobre "proteger a cultura europeia". Tomem a Alternative für Deutschland (AfD), na Alemanha: em 2025, já é o segundo partido mais votado, defendendo deportações em massa e minimizando o Holocausto como "exagero histórico". Que delicadeza! É o nazismo light, para quem quer ódio sem o peso da culpa. Na França, o Rassemblement National de Marine Le Pen, herdeiro do antissemitismo paternal, ganha eleições com promessas de "França para os franceses" ,ou seja, barrar muçulmanos e africanos, porque, claro, a diversidade é o verdadeiro inimigo.

Na Itália, os Irmãos da Itália de Giorgia Meloni governam desde 2022, com raízes fascistas que ela jura terem sido "mal interpretadas". Na Grécia, o legado do Amanhecer Dourado (banido, mas não morto) inspira neonazis a apunhalar imigrantes. E na Hungria? Viktor Orbán, com o seu Fidesz, constrói "muros" e ataca a UE como "conspiração globalista" ecoando Hitler, mas com memes no Facebook. Esses partidos, o "novo fascismo", exploram crises migratórias e económicas como os nazis exploraram a hiperinflação. Condições propícias? Absolutamente: polarização digital, fake news e um eleitorado cansado de "politicamente correto". Riam, porque é hilário: a Europa, ciente da história, vota no seu repeteco.

O Que a África Deve Esperar: Um Colonialismo 2.0, com Drones e Discursos "Humanitários"?

E nós, em África? Ah, a cereja irónica no bolo podre. Essa "nova guinada fascista" na Europa não é só um problema deles, é uma ameaça exportável, um modelo colonialista reinventado para o século XXI. Imaginem: enquanto a AfD sonha com deportações, o que impede que isso se traduza em políticas externas mais agressivas? Já vemos sinais: acordos migratórios que tratam africanos como "carga indesejada", financiando milícias na Líbia para bloquear travessias, ou "ajuda ao desenvolvimento" que na verdade explora recursos minerais moçambicanos e angolanos com contratos leoninos. O novo fascismo promete "segurança europeia", mas para nós significa um colonialismo violento e excludente: drones sobre fronteiras sul-saarianas, sanções seletivas contra "regimes instáveis" (leia-se: quem não obedece), e uma retórica que pinta África como "fonte de caos" ecoando o racismo nazi, mas com linguagem corporativa.

Devemos preparar-nos para o pior? Ora, por que não? Com o Rassemblement National podendo ganhar em França em 2027, e a AfD pressionando Merkel 2.0, espere mais "missões de paz" que são invasões disfarçadas, mais extração de lítio e cobalto sem partilha de lucros, e uma UE que prioriza "fortaleza Europa" sobre solidariedade global. Moçambique, com a sua instabilidade no norte, pode ser o próximo alvo de "intervenções humanitárias" que beneficiam empresas francesas ou alemãs. O nazismo não morreu; ele evoluiu para um fascismo globalizado, onde o excludente é "sustentável". Riamos agora, mas preparemo-nos: educação, alianças sul-sul e democracias fortes são a nossa vacina. Caso contrário, o fantasma não só voltará como também rará bagagem extra.

VIsões Do Fim: já perdemos 

Temos um exemplo flagrante dessa "amizade entre amigos de amigos", que ilustra perfeitamente o cinismo da máquina global. Ontem, no coração de Doha, no Qatar, o suposto mediador neutro –, um bombardeamento israelita atingiu uma delegação do Hamas em pleno processo de negociações para um acordo de paz. O governo de Netanyahu, com a precisão de um cirurgião bélico, viu ali a oportunidade dourada para eliminar a "elite terrorista". Afinal, em nome da cruzada contra os "terroristas", tudo vale: bombas em capitais estrangeiras, diplomacia em ruínas e civis como dano colateral. Ironia suprema: por que ações semelhantes não acontecem na Coreia do Norte, esse bunker nuclear intocável? A resposta é brutalmente simples, a bomba atómica como dissuasor supremo. Talvez a única "paz" viável seja mesmo a paz nuclear, um equilíbrio de terror mútuo que recuso veementemente aceitar. Como africano em África, privado de tecnologia avançada, do básico essencial e armado apenas com tratados éticos frágeis, sinto-me impotente perante a violência implacável dessa MÁQUINA DO MUNDO, que esmaga os fracos sem pestanejar. Os novos fascistas estão a caminho, e o que nos resta? Discursos morais vazios para combater uma guerra que já perdemos há décadas. Essa gente saudosista do mercado colonial, que especula com capitais enquanto convive serenamente com os horrores do próprio povo – sem moradia, sem dignidade. Essa gente... "Eles passarão, eu passarinho",

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

O Verdadeiro Tesouro Escondido: Gerenciamento, Não Minérios (Ou Por Que Seu País Pode Ser Rico em Ouro e Pobre em Cérebros)


Introdução: O Mito Brilhante que Engana Tolos

Ah, os recursos naturais! Esses salvadores reluzentes, prometendo paraíso eterno como um bilhete de loteria que nunca expira. Mas, ó surpresa das surpresas, se fosse assim, a África seria uma utopia de diamantes flutuantes, e a Venezuela estaria nadando em petróleo como um pato feliz. Em vez disso, muitos desses "abençoados" pela Mãe Natureza chafurdam na miséria, enquanto nações como Singapura cujo principal recurso é uma localização estratégica e ar-condicionado infinito riem até o banco. A moral da história? O desenvolvimento de um país depende mais de uma gestão afiada do que de uma pilha de pedras preciosas. Porque, vamos ser honestos, ter ingredientes não te torna um masterchef; torna-te apenas um acumulador de lixo se você queimar tudo no fogo da corrupção ou das ideias que não funcionam. É como dar um Ferrari a um motorista bêbado: acidente na certa.

Fundamento Filosófico: De Hobbes a Nietzsche, com uma Dose Extra de Sarcasmo

Vamos filosofar, porque nada eleva um debate como citar barbudos mortos que provavelmente rolariam na sepultura vendo nossa estupidez moderna. Comece com Hobbes e seu Leviatã: o mundo é uma selva onde a sobrevivência não vem de presentes da terra, mas de gerenciar o caos para não virar almoço dos vizinhos mais fortes. Ah, e Maquiavel? "Melhor ser temido do que amado", especialmente se você for um país nanico sem óleo para subornar aliados. Jogue Nietzsche na mistura com sua "vontade de poder": nações que superam limitações com astúcia voam alto, enquanto as que choramingam pelo passado afundam no niilismo econômico. E Huey Newton, o pantera negra com visão de raio-X? "Qualquer povo desarmado é escravo, ou está sujeito à escravidão a qualquer momento." Traduzindo: sem "armas" nucleares, econômicas ou institucionais, você é só um alvo ambulante. Filosofia não é só para cafés pretensiosos; é o manual para não ser pisoteado no jogo global.

Caso de Estudo Mordaz: Coreia do Norte – A Bomba que Salvou o Ditador (e Fuzilou o Futuro)

Falando em "armas", eis a Coreia do Norte, o palhaço trágico do circo geopolítico. Enquanto o mundo zomba de desfiles com mísseis que parecem props de filme trash, Pyongyang dá gargalhadas atômicas. Por quê? Eles gerenciaram, ou melhor, sacrificaram tudo pela bomba nuclear como escudo anti-invasão. Desde os anos 50, os Kims torraram vidas em fome e gulags para deter os ianques. Resultado? Ninguém invadiu desde a Guerra da Coreia; até Bush Jr. piscou em 2002, temendo o cogumelo radioativo. É hilário, não? "Sem petróleo? Sem problema, faça uma bomba e veja os imperialistas tremerem." Custou milhões em miséria? Claro! Mas filosoficamente, é Hobbes puro: no anárquico tabuleiro mundial, poder nuclear mantém os tubarões longe. Pena que o povo come grama enquanto o líder come caviar.

Caso de Estudo Cortante: África – Presa no Loop Infinito da Reparação Histórica

Agora, vire o holofote para a África, o continente que ganhou a loteria geológica mas perdeu o bilhete na lavanderia da história. Não nego: colonialismo e escravidão foram horrores que merecem um tribunal eterno. Mas ficar obcecado por "reparações" é como um time de futebol que passa 90 minutos xingando o árbitro em vez de marcar gols. A União Africana até elegeu "Reparações" como tema para 2025, revivendo dramas do século XIX como se fossem novela mexicana. Enquanto isso, ex-colonizadores dão risadinhas, porque dinheiro de reparação, se vier, não conserta a podridão interna: corrupção, guerras tribais e zero inovação. Países como Congo, com minérios aos montes, afundam em pobreza porque a "maldição dos recursos" transforma riqueza em veneno. Huey Newton aprovaria? Dificilmente: sem "armas" próprias, a liberdade é miragem.

Desastres Gerenciais Extra: Venezuela e Nigéria – Petróleo para os Tolos

Queres mais piadas de mau gosto? Venezuela: outrora o rei do óleo da América Latina, agora um zumbi econômico onde hiperinflação come salários como pac-man faminto. Abundância de petróleo? Sim! Gestão? Um circo de corrupção e populismo que transformou ouro negro em lama negra. Nigéria não fica atrás: maior produtor africano de crude, mas com pobreza galopante e elites que tratam o tesouro nacional como buffet particular. Angola e Sierra Leone? Mesma novela: diamantes e óleo financiam guerras civis, não escolas. É a "maldição dos recursos" em technicolor: sem gestão, riquezas viram correntes. Oh, quão chocante que pilhas de dinheiro atraiam ladrões em vez de santos!

Heróis da Gestão: Noruega e Botsuana – Os Que Enganaram a Maldição

Mas nem tudo é desgraça! Noruega: pegou o petróleo do Mar do Norte e, em vez de gastá-lo em palácios, criou um fundo soberano que faz inveja a Wall Street. Resultado? Um dos países mais ricos e igualitários do mundo, provando que gestão inteligente transforma maldição em bênção. Botsuana, na África? Diamantes aos borbotões, mas com instituições fortes e zero tolerância à corrupção, virou oásis de crescimento em um deserto de fracassos vizinhos. Chile com cobre? Mesmo truque: transparência e investimento em humanos, não em ditadores. Esses "heróis" mostram: recursos + cérebro = prosperidade; recursos + idiotice = caos.

Sem Recursos, Sem Choros: Japão, Singapura e os Magos da Inovação

E os pobrezinhos sem nada? Japão: ilhas vulcânicas com zero minérios, mas pós-guerra virou titã econômico com educação, tecnologia e trabalho árduo. Sem óleo? Invente robôs! Singapura: um pontinho no mapa, sem água doce nem terra fértil, mas gestão visionária a transformou em hub financeiro global. Suíça? Montanhas e queijo, mas bancos e precisão a tornaram rica como Midas. Hong Kong, Coreia do Sul, Bélgica, todos provam: sem recursos, force a inovação ou morra tentando. É quase poético: a escassez obriga genialidade, enquanto abundância convida à preguiça.

Conclusão: Gerencie ou Pereça – A Lição Final de Newton

No final, queridos leitores cínicos, desenvolvimento não é loteria geológica; é xadrez humano. Se recursos bastassem, o Saara seria Las Vegas com camelos. Em vez disso, gestão transforma areia em silício high-tech. Troque lamentações por lições: como Nietzsche diria, "o que não nos mata nos torna mais fortes", se não queimarmos o remédio na fogueira da incompetência. E lembre Huey: sem armas próprias, liberdade é piada. Então, nações, gerenciem ou sejam gerenciadas pelo destino, ou pior, pelos vizinhos. E os vizinhos são pop's, e os pop's não poupam ninguém!

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

A Nova Mina de Ouro da África: Corpos no Feed, Não no Solo

De Cacau a Close: A Evolução do Extrativismo

Houve um tempo em que a África era sinônimo de ouro, cacau, café e petróleo — riquezas arrancadas do solo para engordar os bolsos do Ocidente. Hoje, o continente trocou as commodities tradicionais por uma nova safra: filtros de Instagram que vendem pele de silicone, coreografias de TikTok que disfarçam erotismo como "herança cultural" e um mercado de "conteúdo adulto" que faz o Kama Sutra parecer um folheto de academia. Jovens, muitas vezes vulneráveis, são as novas jazidas, posando para os fetiches de magnatas em Dubai ou Londres, onde o colonialismo agora vem com Wi-Fi e hashtags. Como disse Frantz Fanon em Os Condenados da Terra (1961), o colonizado é sempre um objeto, só que agora ele tem uma conta verificada.

Algoritmos: Os Novos Senhores Coloniais

Os algoritmos são os cartógrafos do século XXI, mapeando desejos com a precisão de um negreiro do passado. E o que eles querem? Não é a poesia de Okot p’Bitek ou as ideias de Amílcar Cabral. É pele, em ângulos que desafiam a física e a decência. Quanto mais explícito, mais o algoritmo aplaude: likes, shares, e um lugar garantido no topo do feed. A África, que já teve seus corpos leiloados em praças coloniais, agora os exibe em lives 4K, enquanto homens do Norte global, com carteiras recheadas e egos frágeis, buscam um "paraíso primitivo" para rugir como "machos alfa". Um estudo da UNESCO (2021) revelou que plataformas lucram bilhões com conteúdo sexualizado de regiões vulneráveis. Liberdade de expressão? Claro, desde que renda cliques.

A Educação Sexual do TikTok

Enquanto líderes discursam sobre "futuro digital" em cúpulas internacionais, adolescentes africanos navegam num buffet de gemidos, poses e "trends" que transformam demiurgos influencers  nuns experts sobre tudo. Esqueça manuais de educação sexual: influencers com sorrisos plastificados ensinam mapas do prazer em lives públicas, onde corpos negros viram mercadoria global. Um estudo da Nature Neuroscience (2023) alerta que cérebros jovens expostos a validação digital desenvolvem dependência de likes tão forte quanto de drogas. O resultado? Uma geração que confunde ser vista com ser amada, medindo autoestima em centímetro e oferecidos no ângulo certo.

O Teatro da Hipocrisia

O circo da moralidade africana é um show à parte. Deputados que de dia bradam pela “defesa dos valores tradicionais” à noite são clientes VIP de lives privadas, com nicknames como “PatriotaFiel69”. Pastores que chamam o corpo de “templo sagrado” têm carteiras digitais que rezam no altar do OnlyFans. A indignação pública é um roteiro ensaiado: todos gritam no púlpito, todos sussurram nas DMs. Como dizia Chinua Achebe em O Mundo se Despedaça (1958), a tradição é impecável até o dinheiro entrar na conversa.

Os mesmos "mais velhos" que falam da moral e o dos bons costumes ganharam um estranho gosto de trocar fotos e vídeos sensiais das moças buscando um almoço. Todos os dias tem um escândalo sexual que parte de um vídeo íntimo vazado. Isso é uma indústria de promiscuidade. 

Regular Não é Censurar

Falar em regular conteúdo faz os libertários de Twitter, que nunca leram Foucault, gritarem “censura” como se fossem heróis de uma distopia. Mas regular não é apagar cultura, é proteger mentes que ainda não sabem filtrar o lixo digital. Estados africanos precisam de leis com garras: limites de idade, verificação de identidade e multas que doam no bolso de plataformas como TikTok e OnlyFans. Um relatório da Internet Watch Foundation (2022) mostra que 80% do conteúdo sexual envolvendo menores vem de plataformas que “só conectam pessoas”. Conectar, sei. Proteger crianças de minas de cobalto não é censura, e proteger adolescentes de predadores digitais também não é.

Um Futuro Além do Close

Se nada for feito, a herança digital africana será um arquivo de nudes, não de ideias. Por séculos, o mundo nos definiu pelo que podia extrair: ouro, marfim, corpos. Chegou a hora de exportar pensamento, inovação, arte e menos closes que fariam o algoritmo pedir demissão. Como dizia Steve Biko em Eu Escrevo o Que Quero (1978), a libertação começa na mente. Mas, pelo jeito, o algoritmo prefere as nádegas saltitantes. Cabe a nós mudar o feed.


sexta-feira, 8 de agosto de 2025

O Reacionário Acidental Ou omo me tornei quase um conservador com cheiro de Marx no bolso

A Ascensão dos Salvadores de Feira

Eles surgem com bandeiras ao vento e promessas de ordem: os populistas de direita, sejam chamados de nacionalistas, reacionários ou "exorcistas da modernidade líquida". De Nayib Bukele em El Salvador a Giorgia Meloni na Itália, passando por Donald Trump e André Ventura, esses líderes apontam o dedo para imigrantes, minorias ou qualquer "outro" que possam culpar pelos males do mundo. E nós, que nos vemos como defensores da justiça e da razão, corremos para rotulá-los: fascistas, loucos, oportunistas. Mas condenar é fácil. Difícil é entender por que tantos, de mães trabalhadoras a jovens desiludidos, aplaudem suas soluções simplistas. Por que o populismo seduz até aqueles que, como eu, já sonharam com utopias coletivas?

O Apelo da Simplicidade

Confesso: já me peguei intrigado por políticas de figuras como Bukele ou do partido português CHEGA. Não porque me tornei um reacionário com saudades de um passado idealizado, mas porque a esquerda, minha velha companheira de sonhos, às vezes parece mais preocupada em analisar as raízes da criminalidade do que em proteger quem teme sair de casa à noite. Em 2022, Bukele lançou uma ofensiva em El Salvador, prendendo mais de 70 mil pessoas em 18 meses, segundo dados oficiais. A taxa de homicídios caiu 60%, mas a custo de denúncias de violações de direitos humanos. Para muitos, ele trouxe segurança; para outros, apenas a ilusão dela. O povo, exausto de ensaios acadêmicos sobre desigualdade, aplaudiu a ação e não por desprezo à justiça, mas por desespero por resultados.

Não é só em El Salvador. Na República Democrática do Congo, um líder local, Monsieur Mutamba, ganhou fama ao executar criminosos em transmissões ao vivo, segundo relatos de 2024. Questionado sobre direitos humanos, ele os chamou de "invenção ocidental" — e foi ovacionado. A incoerência é gritante: o mesmo povo congolês que chora pelos guetos franceses aplaude linchamentos caseiros. Por quê? Porque a promessa de segurança, mesmo que ilusória, tem gosto de pão quente.

Em Angola, o mesmo povo indignado com a violência policial queima ladrões nas ruas, em cenas que lembram as antigas inquisições católicas. Um povo tranquilo não gera polícias ou políticos violentos; todos são semelhantes, até na corrupção. A indignação é que uns vivem o Gangsta Paradise e outros enfrentam a realidade dos afastados da corte. A busca por soluções simples sempre justificou violências e horrores dos quais todos somos cúmplices.

A Hipocrisia Global

O populismo não floresce no vácuo; ele se alimenta das contradições do mundo globalizado. Veja a questão do véu islâmico. Países árabes exigem que chefes de Estado ocidentais usem o hijab em respeito às tradições locais, e o silêncio reina. Mas quando nações europeias, como a França, debatem a proibição da burka em escolas públicas, gritos de opressão ecoam na mídia. O direito de decidir sobre o próprio corpo vira um argumento de ocasião, aplicado seletivamente.

De qualquer modo, o mesmo povo que pede ao Ocidente leis mais flexíveis para obtenção de nacionalidade europeia mantém leis patriarcais que me impedem, eu, um bom santomense, de me tornar cidadão desses países ou de garantir cidadania ao meu filho, se o tivesse. Vejo que, nessas mesmas comunidades magrebinas racializadas na Europa, muitos acabam por discriminar negros em guetos ainda piores em seus países de origem. Talvez o Ocidente não seja tão mau quanto o pintam.

Essa hipocrisia não é nova. Mahatma Gandhi, ícone da luta anticolonial, defendia os direitos dos indianos na África do Sul, mas chamava os africanos negros de "cafres", com a condescendência de quem se via acima deles. Hoje, na Líbia pós-Gaddafi, relatórios da ONU de 2023 confirmam a existência de mercados de escravos, onde imigrantes subsarianos são vendidos sob o sol escaldante de uma suposta modernidade. E na África do Sul, onde sonhamos com um continente sem apartheid, a xenofobia contra outros africanos cresce — não entre brancos nostálgicos, mas entre negros, muitos deles filhos da luta contra o regime. Segundo a Human Rights Watch, ataques xenofóbicos em 2024 deixaram dezenas de mortos em comunidades pobres. É uma punhalada vinda de dentro.

O que mais tocou minha alma foi a fala de Venâncio Mondlane sobre a xenofobia em Portugal. Ele relata que André Ventura lhe disse que o problema não são os moçambicanos, mas "os outros". Esses "outros" que tentaram apoiar a causa de Mondlane. Os "outros" que podem ser racializados e desumanizados, enquanto os moçambicanos, aparentemente, não. Está aí o modelo de combate alienante e excludente.

Um Marxista em Crise

Eu, um santomense criado com os ecos da Internacional e da utopia panafricana, sinto uma dor profunda. Como marxista, acredito na luta coletiva, mas o mundo real me força a encarar verdades incômodas. Em São Tomé, amigos defendem ocupações ilegais em Lisboa, mas reclamam quando alguém invade um terreno aqui. Quando apontei essa contradição, quase me chamaram de traidor. Perguntei: “E se fossem portugueses construindo barracas no teu quintal?” Silêncio. Às vezes, é preciso devolver o espelho.

Meu medo era virar reacionário. Mas começo a entender que não é absurdo um país querer decidir quem cruza suas fronteiras ou que tolerar os intolerantes pode ser perigoso. Não defendo muros, mas reconheço o apelo de proteger o que é nosso — não por ódio, mas por pragmatismo. Se ex-colônias escolhem negociar com a China ou o grupo Wagner, é soberania. Se a União Europeia parece um condomínio hostil, que se reconfigure. E se um imigrante se sente humilhado, que busque novos caminhos: talvez Angola, Cuba, ou até Marte.

Eu, que fui ensinado a ver qualquer um que sofre como meu companheiro de luta, não consigo enxergar raças. Um português sem habitação é meu companheiro. Sei diferenciar um colono português de um português comum, um norte-americano oprimido de um imperialista. São meus irmãos de cruz. Entendo o povo como o povo, aquele que luta por um mundo melhor, sem ideologias ou pretensões de virar elite. Vejo os povos do mundo como companheiros contra aqueles que querem nos dominar. E entristece-me esse cenário de luta interna.

Um Novo Caminho

O sonho da globalização morreu. Não há mais ONU, só grupos de WhatsApp onde todos gritam e ninguém resolve. Imigrantes africanos enfrentam discriminação no Golfo, racismo no Norte, violência na América Latina, e são chamados de "sobreviventes" com um sorriso cínico nas estatísticas. Chegou a hora de nos organizarmos. Não por vingança, mas por sanidade. Construir nossas próprias universidades, decidir quem pesca em nossos mares, escolher nossos parceiros de negócios. Menos esperança ingênua, mais cálculo estratégico.

Como marxista, quero acreditar na solidariedade. Mas, como santomense, sei que o mundo não espera por sonhos. E você, o que fará agora que a utopia global ruiu? Continuará gritando contra os populistas ou começará a construir respostas?

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Angola Treme, Portugal Grita: João Lourenço e André Ventura na Política do Espetáculo

Diretamente daquilo que os angolanos chamam de sua 19ª província não-oficial, São Tomé e Príncipe — onde se fala mais sobre Luanda do que sobre Santana — assisto, atônito (e algo resignado), à série distópica que é a atual realidade angolana. Começa com um aumento do preço do petróleo, passa pelo efeito dominó no combustível, culmina numa inflação galopante e acaba... em carros incendiados, lojas pilhadas, jovens mortos nas ruas e “engajamentos” de ativistas digitais com Wi-Fi europeu. 

Enquanto isso, João Lourenço segue firme no cargo, mas cercado. Por um lado, o povo faminto e cansado. Por outro, os barões do seu próprio partido, o MPLA. E, em um terceiro e surpreendente flanco: André Ventura, líder da extrema-direita portuguesa e autodeclarado salvador da civilização lusitana contra imigrantes e outros bodes expiatórios do costume.

Ventura, numa estratégia que mistura pragmatismo de campanha com o charme de um vendedor de telemóvel de segunda mão, identificou um nicho: a diáspora ressentida. Aqueles que fugiram de Angola em busca de um sonho europeu e que hoje oscilam entre o orgulho e o desconforto. Ventura promete-lhes reconhecimento, culpa os "outros" e, como qualquer populista de manual, oferece uma identidade nova aos deslocados.

Quero deixar aqui as minhas palmas mais ruidosas a André Ventura — um verdadeiro génio da esperteza lusitana. A sua estratégia é de uma sofisticação rasteira exemplar. Ele percebeu rapidamente que não havia glória em seguir o caminho da decência institucional. Afinal, esse é um trilho reservado aos bem-nascidos, e não aos sobreviventes da taberna e do canal do YouTube. Ventura usou com mestria o seu ativo mais precioso: o medo embrulhado em patriotismo barato. Os portugueses — esses mesmos que espalharam filhos pelo mundo inteiro, da Venezuela à Suíça — agora fingem que nunca foram imigrantes. E Ventura, com a graça de um ilusionista de feira, aponta o dedo para o óbvio: “um país tem que proteger as suas fronteiras!”

Mas o toque de mestre vem agora: ele não morde a mão dos verdadeiros tubarões. Os sefarditas com golden visas? Silêncio. Os magnatas imobiliários que compram Lisboa a retalho? Intocáveis. Os nômades digitais que pagam 3.000 euros por um T1 e empurram os lisboetas para a Azambuja? Ventura nem os vê — é míope seletivo. Prefere esmurrar os que já vêm com os olhos roxos: pobres, cegos e estrangeiros sem lobby. A esquerda, coitada, ainda tenta compreender com indignação moral, e o PSD, em crise de identidade, tropeça atrás dele como um cão com medo de perder o osso. Não me surpreenderia se, em breve, Ventura surgisse em Fátima, envolto em neblina, proclamando ser a reencarnação de Dom Sebastião, pronto para fundar a Lusitânia — desta vez com vídeos em direto e patrocinado por suplementos de testosterona - e toda a diáspora africana estará do seu lado, essa diáspora que lhe parecerá mais Al-Andaluz. 

Da mesma forma que Trump atacava a mídia e os democratas, Ventura investe contra os governos africanos aliados ao PS ou PSD. Ele sabe que não vai governar Angola (nem quer), mas sabe que pode usar Angola para governar Portugal. Como? Simples: atacando João Lourenço, ele ganha pontos com os angolanos-portugueses que se sentem traídos pelos dois lados. A lógica é cristalina: "Se João é mau para Angola, então quem o ataca é amigo dos angolanos". Parece simplista. É. E funciona.

E foi assim que o CHEGA se tornou o partido preferido dos portugueses em São Tomé e Príncipe em algumas urnas, ultrapassando PS e PSD, num feito que faz Salazar gargalhar no túmbo. 

Ventura não está sozinho nesse teatro. Em Moçambique, tentou aproximação com Venâncio Mondlane, o opositor fora da linha do FRELIMO. Não por amor aos moçambicanos, mas porque qualquer figura que bata no sistema africano tradicional é uma aliada potencial contra os governos portugueses comprometidos com esses mesmos regimes. Ventura é como um hacker político: explora cada brecha do sistema.

Do lado angolano, João Lourenço responde com a tática mais previsível de todas: medo. Mais tropa, mais repressão, mais mortos. Só que a tática, antes eficaz, agora ecoa numa população mais conectada, mais informada e cada vez mais desesperada. E desesperados, como bem diria Maquiavel, são difíceis de governar sem oferecer ou terror absoluto ou uma miragem de esperança. Como ele não consegue oferecer nem um nem outro, sobra-lhe apenas o improviso à base de porrada e propaganda.

Para piorar, a imagem internacional do governo degrada-se. As pilhagens são filmadas. Os corpos, fotografados. As repressões, denunciadas. E o Ocidente? Finge que não vê — afinal, depende de quem controla o petróleo. "They don’t care, bro!"

Prognóstico final? Uma frente quente de balas, seguida de um nevoeiro denso de negociações tímidas. O futuro de Angola será decidido menos por ideologia e mais por logística: quem controla os recursos, os microfones e os algoritmos.

E Ventura? Vai continuar. Explorando ressentimentos, reciclando pânicos, reinventando vilões. Não porque quer salvar Portugal. Mas porque quer salvá-lo para si. Ou talvez de facto queira salvar Portugal,

João Lourenço, por sua vez, não luta mais pela presidência. Luta pela sobrevivência. Medo de que o que se passou com a família Dos Santos ocorra também com a famíia Lourenço. E se contar com os seus bens fora de Angola enquanto ativo, então - basta se lembrar o que foi feito com os ativos da imperatriz Isabel dos Santos. Ó história, sua safada, sempre a querer se repetir!

E é por isso que a tempestade não é apenas metáfora. É previsão - o silêncio ou silenciamento de uma oposição tímida e Angola; os Populares famintos dispostos à tudo; os barrões de MPLA de braços cruzados e João Lourenço tentado assegurar o seu reinado numa era digital demais; os negociantes de petróleo e outras commodities parecem acenar para uma negociação mais íntima com propostas  irrecusáveis - O que fazer John Wick? Qual caminho vai seguir JLO?


quinta-feira, 24 de julho de 2025

Trump e os Monarcas de Papelão: Uma Crônica para Quem Ainda Crê na Soberania Africana


Eis que, num dia qualquer de nossa era gloriosamente neoliberal, o sempre nostálgico ex-presidente Donald Trump decidiu convidar alguns chefes de Estado africanos — Gabão, Guiné-Bissau, Libéria, Mauritânia e Senegal — para um chá diplomático na Casa Branca. A reunião foi vendida como “histórica”. E de fato foi: histórica na forma como conseguiu comprimir séculos de colonialismo, paternalismo e vassalagem simbólica em algumas horas, algumas selfies e muitos sorrisos. Faltaram só as palmas de pé. 

As imagens que circularam poderiam perfeitamente ser confundidas com um meet & greet entre um astro decadente de reality show e seus seguidores devotos. Os presidentes africanos, homens adultos, com cargos de chefe de Estado, constitucionalmente autorizados a comandar exércitos e assinar tratados pareciam alunos da Harvard of Humilhação, prontos a ganhar uma estrela dourada do professor Trump pelo bom comportamento.

Não que eu esperasse outra coisa. A África oficial já há algum tempo tem sido uma peça de teatro cujo público-alvo está fora do continente. Um espetáculo de elites desideologizadas, convertidas em síndicos coloniais com crachá de "parceiros estratégicos". E se tudo isso soa amargo, permita-me: trata-se apenas de realismo dialético.

Aliás, é preciso compreender o contexto: quando Trump, num rasgo de sensibilidade cultural, se surpreendeu com o “excelente inglês” de um presidente africano, ele só ignorava um detalhe menor — o presidente era da Libéria. Um país fundado por afro-americanos libertos dos EUA. Mas esperar que Trump entenda isso seria como pedir a um tubarão que compreenda as dores existenciais dos peixes. Ele faz o que sempre fez: tenta dominar, vender e parecer superior. A tragédia não é Trump — é quem se curva.

Axelle Kabou já nos avisava: o drama africano não é a dominação — é a vontade voluntária de ser dominado. Em Et si l’Afrique refusait le développement?, ela desmascara a elite africana que, vestida de independência, continua a rezar o catecismo de Paris e Washington com zelo de seminarista. É o que vemos. Uma elite que não sabe construir estradas, mas sabe voar para conferências internacionais. Que não planta alimentos, mas colhe relatórios de ONGs. Que não educa o povo, mas escreve discursos sobre o “empoderamento”.

Achille Mbembe já classificou isso como terceirização do poder: os governos africanos administram a miséria para os de cima, enquanto posam de estadistas para os de fora. O neoliberalismo, com sua pedagogia perversa, ensinou aos nossos governantes que a dignidade nacional pode ser trocada por convites VIP. É a velha lição do capataz: esteja limpo, sorria para o senhor, e talvez ele te ofereça um whisky depois do serviço.

E aí entra Fanon, sempre ele. Em Os Condenados da Terra, ele nos lembra que a burguesia africana — aquela que deveria liderar o processo de libertação — se especializou em simular revolução para melhor administrar a colônia. No lugar da violência libertadora, escolheram os jantares com o embaixador. No lugar da autonomia econômica, assinaram memorandos com o FMI. Substituímos os colonizadores por gerentes locais da mesma máquina.

Hoje, nossos presidentes falam de "governança", "resiliência", "inclusão digital" — mas tudo o que governam são orçamentos vigiados, tudo o que resistem são greves populares, e tudo o que incluem são suas famílias em empresas offshore. E quando Trump os chama, lá vão eles, ajustando os ternos, ensaiando sorrisos, prontos a se tornarem figurantes no reality show do capital ocidental.

Mas sejamos justos: talvez eles não tenham escolha. É fácil para nós, intelectuais, com tempo para escrever colunas indignadas, julgar quem tem que manter as luzes acesas com empréstimos condicionados. Como diria Gramsci, o cinismo é uma forma de impotência intelectual — mas, às vezes, é tudo que nos resta para sobreviver ao grotesco.

No fim das contas, a tal reunião foi um espelho. E como todo bom espelho colonial, refletiu o que somos quando aceitamos ser governados por aqueles que medem soberania pelo acesso à Casa Branca. Os velhos colonos nos queriam obedientes. Os novos apenas nos querem funcionais.

A imagem dos presidentes sorrindo ao lado de Trump deveria estar estampada nos manuais de ciências políticas do futuro: “Como destruir um continente com consentimento diplomático”. E enquanto isso, o povo? Ora, o povo continua fora do palco, como figurante sem fala no teatro das nações. O povo, está vendo o presidente de Gabão dançando break dance com o chapéu assinado por Trump escrito algo já gravado na consciência dos imigrantes pobres "Make America Great Again" produzidos numa fábirca chinesa. 




Sem Medo, Nada Funciona: a verdade sombria por trás da produtividade

Estamos a viver uma época em que o medo já não é apenas um sentimento: tornou-se uma infraestrutura invisível , uma tecnologia silenciosa qu...