Por um Correspondente Desiludido em São Tomé
Em plena era digital, a juventude dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) parece ter trocado as barricadas da luta anticolonial por mantras de autoajuda importados do Vale do Silício. Esqueçam Amílcar Cabral, o guineense que sonhava com unidade africana contra o jugo português, hoje, o herói é o "empreendedor" que promete virar Bill Gates com um smartphone e muita "disciplina". Que ironia: enquanto Cabral alertava para a exploração coletiva, esta geração acha que o colonialismo acabou e bastam dancinhas no TikTok para enriquecer.
O Hustle Escondido na Hiperssexualização
Mas vejamos o verdadeiro "hustle" que pulula nas redes: uma vulgarização grotesca do corpo feminino africano, transformado em mercadoria barata para likes. O TikTok, esse oráculo neoliberal, revela o espetáculo da idiotice. Temas como pobreza e desigualdade reduzidos a piadas de mau gosto. Em Angola e Moçambique, importam reality shows americanos como se fossem cultura própria, expondo celebridades em rodopios de nada. Adeus Valete, Azagaia ou Pai Grande o Poeta, vozes que denunciavam o sistema; olá endless scrolling, onde cérebro homogenizado repete slogans como se fossem revelações divinas. Thomas Sankara, o burquinense que pregava soberania e rejeitava o consumismo ocidental, deve estar se revirando no túmulo ao ver esta alienação.
Políticos Showmen: Ideologia? Só se for de Efeito
Os políticos, outrora ideólogos, viraram showmen à la Trump, agora frases de efeito no lugar de planos. A pobreza, escândalo coletivo para Kwame Nkrumah, o ganense que lutava por pan-africanismo, agora é "batalha individual". Sucesso? Garantido com mindset certo! Eles dançam para o algoritmo, inflamam polêmicas para engajamento, ignorando flagelados. Em São Tomé, livrarias sumiram; cultura fica para expatriados e burguesia que entende educação. A juventude? Reza por vistos, fugindo em "navios negreiros" modernos, para depois vangloriar senzalas em bairros sociais europeus, enquanto extrema-direita promete pisar em todos e deixá-los naufragar no mediterrâneo sem um pingo de dignidade. Ou voam para o médio oriente para enfrentarem o sistema cafala ou de desumanização legal.
Arte como Escapismo: Sexo, Drogas e Musk
A arte reflete o caos: shows consumíveis, letras de sexo, drogas e lifestyles inatingíveis. Convencem que a diferença entre Elon Musk e um africano desesperado é só "mindset", pura propaganda neoliberal. Artistas, escravos de aplausos, alienam o povo. "Comeram a minha banana" vira debate nacional, enquanto extermínio por idiotização avança. Carros maiores, TVs maiores; livros? Extintos. Samora Machel, o moçambicano que combatia o analfabetismo como arma colonial, veria nisto traição.
O Inimigo Invisível e a Falta de União
Ativistas de outrora viam o Inimigo claro; hoje, proxies e medrosos mantêm poder via acordos ignotos com capital estrangeiro. Pobreza gera "cultura da pobreza": cidades sujas como "nossa condição definitiva". Utopia morreu; viramos cemitério para saqueadores de terras raras e recursos. E os PALOP? Incapazes de cooperação simples sem intermediários gananciosos. Por que não negócios entre nós? Por que voos de São Tomé a Maputo, Bissau ou Praia são missão impossível? Éramos "povos irmãos" que apoiavam Cuba embargada, viam Congo ruir sem braços belgas. Agostinho Neto, o angolano poeta da independência, clamava unidade, onde estão?
A Bolha da Ignorância: Influencer's sim, Malangatana não
Notícias de povos irmãos? Inexistentes na bolha santomense. Sabíamoss mais de Saramago que de Malangatana. Hoje sem Saramago, nem Malangatana. Juventude ignora história, conhece influencers sexuais, músicas de quinta que destroem família africana e busca pelo conhecimento. Intimida quem quer sair da ignorância. Eduardo Mondlane, o moçambicano assassinado por lutar educação libertadora, diria: voltamos à estaca zero, escravos voluntários do algoritmo. Que esquerda africana desperte antes que o hustle nos engula de vez. A esquerda perdeu o discurso de libertação diante d eum público que quer ter os carros que as suas celebridades têm, querem possuir as mulheres seminuas naqueles videoclipes sensuais.
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