Faz uns dias que ouço uma música que na minha mente fosse resultado de algum Dj engenhoso reunindo clássicos da música santomense com um arranjo instrumental mais ousado para atingir a juventude.
Todavia, quero dizer que essa fórmula já
foi criada em escala menor tempos atrás, contudo, só agora esses meninos da Família
Forte escalaram a fórmula trazendo um elemento que não tinha sido muito bem
explorado pelos seus antecessores: “os vibrados”, o pessoal do Rap/Stléva, e mais
alguns que por motivos de memória não consigo me lembrar.
Qual é a fórmula? - Consiste em trazer os elementos do quotidiano,
clássicos da música santola (o bordão ou o refrão) e tudo isso num arranjo
moderno para atingir a juventude santomense.
Os antecessores estavam mais focados em cantar
a realidade do país, os vibrados estavam focados nisso, mesmo que com todos os
seus vieses que decorrem da perspetiva cultural, mesmo assim, ainda havia um
elemento que falta na nova fórmula – a inovação lírica. Os versos do Rei Kongo
em crioulo forro causam riso, espanto, é liricamente interessante… o mesmo vejo
no AG Flyzer e outros que por mais uma vez esqueço de mencionar por não ser um profissional.
Saudades do Mano Jacaré e das rimas em crioulo de G da Wella que pararam a
Biblioteca Nacional.
Por outro lado, Família Forte faz-nos
viajar no estilo de Sum Cornélio, PP Lima, rimas de Mito & Gi. Eles repetem
as mesmas rimas… e isso explora o saudosismo em nós. Ao ouvir julguei estar
ouvindo Babylónia no seu reggae santola. Ao ouvir esses miúdos consigo sentir
vários cantores que eles juntam numa amálgama musical qualquer. Não sei se é
essa a proposta, mas é isso que estão fazendo. Juntaram partes de cada gigante
da música santomense que a nova geração talvez ignore. O
arranjo musical moderno e mais tecnológico com um bass mais mastigável acaba
por atrair jovens e a velha geração entende as referências e têm um momento
saudosista.
Por fim, o monstro de Frankenstein criado pela Família Forte consegue agradar aos gregos e aos troianos e enaltece o nosso crioulo forro em algum nível. O que a Família Forte faz eu comparo com o que o filme “Black Panther” fez para o movimento negro. Um conjunto de pessoas que não conhece Fanon, Aimé Césaire ou o Black Panther Party (ironia) é capaz de dizer Wakanda Forever. Um conjunto de jovens que não entende a originalidade de África Negra, as pérolas de Aidé Índia ou Os Úntués ou a nova geração que nem ouve Camilo Domingos estará repetindo “está tomare kumba, está tomare só” como se estivesse diante de uma grande descoberta… ----
Não posso deixar de agradecer à Família
Forte e aos outros por fazerem os jovens se interessarem pelo crioulo forro e
ao Calemas que ganham mais vendendo um pouco da alta filosofia “Bamu Kélé”
para quem não tem tempo de ler São Deus Lima ou aos Rapazes do Milongo para
quem não tem tempo de ler Padre Sacramento Neto… Cultura é pop! Freio o meu
instinto cultural conservador e todo o meu sarcasmo para genuinamente agradecer ao pessoal porque tem
resultado.
Obrigado… deixo aqui as referências e
outras sugestões para os mais curiosos. OS jovens da Família Forte estão no início,
ainda vão voar mais alto… espero que prefiram arte à fama. Prefiram criatividade ao aplauso.
Família Forte
https://www.youtube.com/watch?v=TR4yP6FLlRc&ab_channel=2F..Fam%C3%ADliaForte
https://www.youtube.com/watch?v=hyyoYSnhyJQ&ab_channel=2F..Fam%C3%ADliaForte
Sum Cornélio
https://www.youtube.com/watch?v=3257mxjDrc8&ab_channel=Andr%C3%A9Tavares
Camilo Domingos
https://www.youtube.com/watch?v=qlsf3HjtCK8&ab_channel=CamiloDomingos-Topic
os leonenses (escrito pelo meu tio – RIP Nuno
Mandinga)
https://www.youtube.com/watch?v=Fvr1lZ7Dxjc&ab_channel=AfricaStickMusic
Babylónia (reparem na voz)
https://www.youtube.com/watch?v=TnRdo4y7ppA&ab_channel=MultmakerEntertainment
África Negra
https://www.youtube.com/watch?v=l783Lcz7ALw&ab_channel=DinneGama
Pepe Lima (não vi disponível a música que queria)
https://www.youtube.com/watch?v=HCNagQztpLs&ab_channel=RSTP
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