Conheci muitos que na ocasião de 12 de
julho disseram-me que não tínhamos motivo algum para comemorar uma vez que o
país anda numa situação caótica, diriam ainda num tom quase profético, num
estado catatónico. As velhas tábuas estão caindo e as novas repugnam a nobreza
santola. Criamos vários tons pejorativos, desde tongas ao gabão, de angolar ao
londrino.
Através disso, olham as fotos por onde coincidentemente
encontram vários brancos banhando no clube náutico e ocupando moradias que estão
na posse atualmente dos “bravos combatentes” da revolução e dizem: ali sim vivíamos,
ali sim o país era feliz, ali enquanto comíamos mamão cozido em 83. Hoje, essa
gente que frequentava a Rua do Rosário e reclama de pudor em toda a sua
magnitude, essa gente que após a independência se apressou a montar um “clube
dos mulatos” em substituição aos colonos por proximidades de cor… podemos ouvir
dessa gente uma desilusão, como de quem após ter levado o filho ao Monte Moriá para
o Sacrifício, Deus não interveio, não houve cordeiro e um homicídio ocorreu ali, rola a cabeça de
Isaac no asfalto esburacado da nossa jovem democracia…e Tomé quer ver as chagas e Cristo dá
gargalhadas.
Permita-me ainda, nesse misto de aforismo
poético e mordaz cavar ainda mais fundo. Uma vez que não tenho palco para expor
as coisas como as vejo no quotidiano, meio que instinto de sobrevivência e
algum bom senso colocado pelos pais educadores.
Não podemos desacreditar a independência
total e completa por causa do desenvolvimento económico que não ocorreu nos
nossos moldes. São categorias diferentes. Totalmente diferentes. O facto de
alguém ser livre não quer dizer que será feliz, mas é necessário que haja
liberdade para que haja uma chance de tentar ser feliz. Precisamos entender
isso para que paremos de olhar a bandeira subir e descer, num sebastianismo
santomense que veste várias roupagens, tirando de nós a responsabilidade pela
construção coletiva daquilo que almejamos.
Um pouco de entendimento histórico do
contexto africano faria qualquer um ver importância de se ser independente,
mesmo que num contexto internacional duvidoso, várias organizações megalómanas,
o peso da dívida que nos acorrenta o pescoço… desafios e mais desafios, tudo
isso pode ser enfrentando por sermos independentes.
Precisamos parar de falar em devolver o
país aos portugueses, precisamos acabar com o complexo de Peter Pan que tem
assolado o país qual um nevoeiro desviante de opinião pública financiado pelas pessoas
que eram autorizadas pela Loja Intermar a fazer comprar por parte de dentro do
balcão e se sentiam demiurgos por causa disso.
Independência é o que torna todo o debate
contra independência possível. É independência que nos faz não acabar com um
cesto furado tentando sugar toda a água de Fernão Dias enquanto somos fulminados
pelos olhares coloniais… Liberdade é uma possibilidade!
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