segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Haylton Dias, Do Palco ao Banco dos Réus: O Show Não Pode Parar

Ao fim do dia, recebemos uma notícia que caiu como um soco no estômago. Um ídolo nacional da música, reconhecido pela sua voz magnífica, está envolvido em um escândalo de abuso sexual e pedofilia. Todos partilham imagens suas no julgamento, Haylton em lágrimas, a juíza e o seu séquito haviam batido o martelo e o desespero tomou conta daquela garganta que não podia mais cantar, apenas lamentava a própria queda. Quero ver o lado sociológico disso. 

Todavia, por anos andávamos a pregar sobre o abuso de menores, o fenómeno de "mina kiá" e todos os padrinhos que guiados por alguma vilania estavam dispostos a molestar  as afiliadas. Haylton aparece mais como um azarado, um idiota que demorou a negociar com a família como fazem muitos. Haylton não entendeu o jogo das "quatorzinhas", bem, das "trezinhas". Escolha uma moça de família pobre, paga-se pelo corpo e se der muito problema ajuda a viajar para Portugal e lá e ela se tornará problema de outrem.

Por outro lado, é o nosso músico. Ele não está fora da nossa realidade. Não é justo olhar para ele como um caso isolado. Podemos indicar muitos andando pelas ruas... eles sentam-se connosco, bebem connosco e estão entre nós. Gente como a gente. Alguns sortudos, outros poderosos... e a vida segue naquilo que Hannah Arendt chamou de o mal banal. As pessoas que fazem o mal não são pequenos monstros, são humanos demasiado humanos.

Agora quero ser polémico. A proteção da infância da filha parecer depender da tua classe social. Um pobre não poderá proteger a sua pequena filha educada por influenciadoras semi-nuas que dançam no Tik Tok sobre as seduções da superficialidade. E na pobreza, ela um dia estará chamando algum jovem de "chocolate" num vídeo erótico qualquer. Ou estará diante de um sexagenário com olhar doce de quem encontrou uma bóia de salva-vida dentro de um mar de sofrimento que a pobreza impõe... bem, posso estar exagerando nessa frase, talvez seja amor quando vejo um senil de 70 anos com o seu amor de 17 anos andando pela praia de mãos dadas. O amor tem formas interessantes de se manifestar. Os pais têm uma forma muito tranquila de se calar também... facilmente navegam entre vítimas e cúmplices... precisamos analisar.

Por fim, lembro de ter visto Lafinese falar algo sobre o assunto... mostrou alguma admiração pelo Haylton e muita tristeza sobre a situação. E pelas ruas nós sabemos o que de facto se passa, os nomes que ninguém ousa citar, nem eu... sou medroso também... olhamos uns para os outros sem a devida coragem de chamar os porcos pelo seus verdadeiros nomes. Sem coragem e questionar a família da jovem que aparentemente sabia do ocorrido... E tantos outros que por aí andam. Existem muitos "chocolates" por aqui, e boa parte ninguém ousa citar por medo. Burro foi Haylton, não soube negociar... pelos casos que não dão em nada, ou ele é um burro numa corrida de corcéis furiosos que já estão longe... além de qualquer olhar da justiça... ou o cenário mudou, e algumas ações começam a ser tomadas... Quid iuris?




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