Faz alguns anos que me deparei com essa frase, na verdade uma frase resultante de uma palestra de Mia Couto. Por algum motivo, eu relaciono logo com o pensamento de Krishnamurti de que enquanto houver medo, não haverá liberdade.
O medo aparece como um lembrete de que a nossa sobrevivência está em risco.
O medo de dizer o que pensa porque a tua sobrevivência depende do teu
empregador; Medo de intimidade ou vulnerabilidade porque poderá ser usado pelo
teu parceiro/a contra ti; medo de não poder consumir artigos de moda, porque os
outros podem não te dar valor; medo de cair do patamar financeiro, pois
conquistaste o amor com status económico e tens medo que a relação não resista
às dificuldades. Medo… medo de seguir o que gosta, pois, tem grandes chances de
não se dar bem no mercado de trabalho.
Todavia, tenho visto jovens realmente com medo… medo do mercado de
trabalho, de não ser encaixado e ter um rótulo de insucesso. E é a partir desse
medo que se inicia todo o jogo de dominação simbólica. Os bambus que não se dobraram ou os que não se mostraram flexíveis acabaramm por ser quebrados…
Destarte, o medo enquanto uma algema ideológica. Com o medo criamos o nosso
paraíso artificial de fuga: Lisboa, Londres; Partidos Políticos.. suicídio; criamos uma carreira; um personagem para os outros. Deste raciocínio resulta uma sociedade líquida, não quero mais citar Baumann, mas é isso.
As relações por carência; as amizades por conveniência e a obediência por medo de punição.
Logo, como podemos tirar das nossas relações humanas algo de real? Daí decorre
tantos inertes ansiosos e depressivos funcionais? Daí decorre a necessidade de
elementos químicos para fugir da realidade? Se a tua vida está miserável, a solução
não está no novo ansiolítico, mas em mudar de vida. E muitas vezes numa revolução
pessoal em prol da autenticidade; mora na recusa em aceitar absurdos guiados pelo medo.
Pois, é muito difícil abafar a insistente voz da nossa consciência. Que o único mestre seja nossa própria consciência!
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