sexta-feira, 6 de outubro de 2023

O problema da ostentação é que ela funciona e é atraente!

Sempre estive entre os idealistas. Pessoas com uma visão bem particular da realidade que e do alto da sua bolha achavam que o mundo era movido por ideais e boas intenções.  

Todavia, as reações humanas não passam incólumes às propagandas do capital; ao fetiche da mercadoria. Boa parte das pessoas experienciam a felicidade a partir da aquisição de coisas e corpos.

Vejam, só por um momento, quais são as páginas que mais possuem seguidores… Não são essas mesmas moças com as mesmas posturas e fotos parecidas com o mesmo tipo pode roupa? Não são esses homens ostentando lugares, experiências e capacidade de consumo?

Com efeito, alguns mais conscientes dirão: os homens não querem esse tipo de mulher? A mulheres não querem esses homens superficiais que não têm nada além do corpo e o dinheiro para sublimarem… ledo engano, são esses os mais assediados. A academia dirá – eles não são amados por aquilo que eles são, pois, são superficiais e materialistas. Sinto muito, mas a sociedade como um todo é superficial e materialista. Ninguém quer saber o que um pasteleiro da esquina tem a dizer, mas sim, CR7 ou Bill Gates. É muito provável que quando te perguntam o que fazes da vida, na verdade, estão te perguntando: como mereces ser tratado de acordo a tua capacidade de consumo e influência.

Eu olho homens em festas e as mulheres também. O ritual de acasalamento está ali. Elas de facto prestam atenção à marca de roupa; os carros estacionados lá fora; O sorriso de quem venceu na vida enquanto fuma shisha. Do outro lado, os homens seguindo com os olhos os peitos duros brincando com a roupa; as nádegas rígidas desafiando a lei da gravidade; as danças sensuais imitando um ritual de acasalamento alienígena. E esses estereótipos coexistem e formam o consenso.

Todavia, sim, é o teu corpo e a capacidade de consumo que vai te tornar atraente à maioria das pessoas. E quando falo de capacidade de consumo, não entendam como somente o supérfluo, mas o necessário também. É a capacidade de ter um plano de saúde em Portugal que te mantém vivo em São Tomé. A capacidade de viver em uma casa com boa insolação, água potável e canalizada que te mantém saudável. É o dinheiro que decide a qualidade da tua alimentação e a tua experiência cultural. Podemos ignorar o jogo, mas não as consequências de ignorar o jogo.

Quero ir ainda mais longe… tantos homens que encontro no bar tendo ataque de pânico porque o dinheiro está fugindo, a mulher não o respeita mais e os filhos que viam nele um saco azul passam a lhes ignorar. De repente, as cenas de ciúmes começam, a mulher rejeita-o sexualmente e os amigos de copo não o convidam mais. O único elo que liga a família e uma boa amizade muitas vezes é só o dinheiro.

Um jogo interessante, se através da ostentação conquistas e manténs, com a fuga do capital, de facto acreditas que ela ficará por uma força abstrata qualquer? Se ao ostentares o corpo em mil redes sociais atraíste olhares, acreditas que, ao perder ou no surgimento de uma outra concorrente melhor, ele ficará com base em teus valores que nunca foi o interesse primordial?! – Se estamos comprando afetos, precisamos saber que estamos comprando. Tim Cook não passa a morrer de amores por ti após comprares um produto da Apple. Just doing business!

Sem comentários:

Enviar um comentário

Venâncio Mondlane: Entre a Pedra de Sísifo e o Sonho Moçambicano

Nada mais arrogante do que acreditar que apenas criticar o sistema nos torna imunes às consequências de enfrentar as garras de uma estrutura...