Sempre estive entre os idealistas. Pessoas com uma visão bem particular da realidade que e do alto da sua bolha achavam que o mundo era movido por ideais e boas intenções.
Todavia, as reações humanas não passam
incólumes às propagandas do capital; ao fetiche da mercadoria. Boa parte das
pessoas experienciam a felicidade a partir da aquisição de coisas e corpos.
Vejam, só por um momento, quais são as
páginas que mais possuem seguidores… Não são essas mesmas moças com as mesmas
posturas e fotos parecidas com o mesmo tipo pode roupa? Não são esses homens ostentando
lugares, experiências e capacidade de consumo?
Com efeito, alguns mais conscientes dirão:
os homens não querem esse tipo de mulher? A mulheres não querem esses homens
superficiais que não têm nada além do corpo e o dinheiro para sublimarem… ledo
engano, são esses os mais assediados. A academia dirá – eles não são amados por
aquilo que eles são, pois, são superficiais e materialistas. Sinto muito, mas a
sociedade como um todo é superficial e materialista. Ninguém quer saber o que
um pasteleiro da esquina tem a dizer, mas sim, CR7 ou Bill Gates. É muito provável
que quando te perguntam o que fazes da vida, na verdade, estão te perguntando:
como mereces ser tratado de acordo a tua capacidade de consumo e influência.
Eu olho homens em festas e as mulheres
também. O ritual de acasalamento está ali. Elas de facto prestam atenção à
marca de roupa; os carros estacionados lá fora; O sorriso de quem venceu na
vida enquanto fuma shisha. Do outro lado, os homens seguindo com os olhos os
peitos duros brincando com a roupa; as nádegas rígidas desafiando a lei da
gravidade; as danças sensuais imitando um ritual de acasalamento alienígena. E
esses estereótipos coexistem e formam o consenso.
Todavia, sim, é o teu corpo e a capacidade
de consumo que vai te tornar atraente à maioria das pessoas. E quando falo de capacidade
de consumo, não entendam como somente o supérfluo, mas o necessário também. É a
capacidade de ter um plano de saúde em Portugal que te mantém vivo em São Tomé.
A capacidade de viver em uma casa com boa insolação, água potável e canalizada
que te mantém saudável. É o dinheiro que decide a qualidade da tua alimentação
e a tua experiência cultural. Podemos ignorar o jogo, mas não as consequências
de ignorar o jogo.
Quero ir ainda mais longe… tantos homens
que encontro no bar tendo ataque de pânico porque o dinheiro está fugindo, a
mulher não o respeita mais e os filhos que viam nele um saco azul passam a lhes
ignorar. De repente, as cenas de ciúmes começam, a mulher rejeita-o sexualmente
e os amigos de copo não o convidam mais. O único elo que liga a família e uma
boa amizade muitas vezes é só o dinheiro.
Um jogo interessante, se através da ostentação
conquistas e manténs, com a fuga do capital, de facto acreditas que ela ficará
por uma força abstrata qualquer? Se ao ostentares o corpo em mil redes sociais atraíste
olhares, acreditas que, ao perder ou no surgimento de uma outra concorrente
melhor, ele ficará com base em teus valores que nunca foi o interesse primordial?!
– Se estamos comprando afetos, precisamos saber que estamos comprando. Tim Cook
não passa a morrer de amores por ti após comprares um produto da Apple. Just
doing business!
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