quarta-feira, 12 de abril de 2023

O remédio budista para o fim do sofrimento.

 


De acordo com o pensamento budista, a causa maior do sofrimento reside nos nossos desejos. Diante dessa afirmação, a mente corre rapidamente para a ideia de que não desejar é a solução. Isso é não entender a natureza da mente. Desejar não desejar ainda é desejar. Buda estava falando do desejo pelas coisas não correctas. Os desejos não podem não ser desejados, mas entendidos, desaparecem como bolas coloridas.

Com efeito, se desejamos algo passamos por duas fases: não ter e ficar ansioso ou ter e ficar entediado. Posso fazer uma relação rápida com a ideia de amor em Platão que se fundamenta no desejo. Para Platão amor = desejo. Qual é o problema? Assim que se tem o objeto do amor, vem o êxtase e após isso o amor acaba. Só o cego pode desejar ver. O desejo mostra a nossa falta, mostra a nossa insegurança e prega-nos uma armadilha existencial. Se só desejo o que não tenho, o desejo reside na falta. Os relacionamentos tornariam uma espécie de lançamento de Iphone, após experimentar os dissabores de lidar com a realidade, um novo modelo é lançado e nos convencemos que o futuro será melhor.

Buda diria, tenha cuidado com as coisas que desejas, por esses desejos correrás riscos desnecessários e projetarás a tua felicidade em coisas bem fugazes ou passageiras. Buda despertou para a vida quando conheceu o mundo real. A morte, a doença, o envelhicmento… a perda. A natureza transitória do corpo e das coisas que tomamos por eternas causam sofrimentos reais. Os nossos pais ou filhos morrerão, o nosso corpo entrará em colapso, um dia morreremos também. Precisamos reconhecer isso como parte da vida.  Evitar isso é evitar a vida… é urgente viver realmente e sem distrações.

Buda no momento de iluminação meditando nas árvores salas gêmeas percebeu o Mara, a ilusão. É fácil alguém se iludir enquanto crê iludir o outro. Que nem um aluno que copia na prova e crê driblar o sistema mas acaba perdendo a oportunidade de desenvolver uma competência útil à vida. Mara representa a ilusão, Mara vive dentro de nós e funciona como a força que nos impede de ver a Verdade. Ele está no véu de Maya que não nos permite ver as coisas como são.

Qual Verdade?: a transitoriedade das coisas. Hoje estamos vivos, amanhã não. Não podemos controlar os pensamentos e as ações dos outros. O mundo é caótico. As pessoas que gostamos vão morrer. Nosso tempo pode ser exinguido a qualquer instante. Estabilidade não existe. Tudo está em constante mudança. Não precisamos buscar nada fora, nada está em falta, a única viagem necessária é para dentro. Por fim, não podemos salvar pessoa alguma, cada um está naufragando, corpos doridos, e quem está se afogando não poderá ser salva e arrastará tudo e todos no processo.

Destarte, penso no problema com o desejo, devemos de facto buscar satisfazer os nossos desejos ou entender a natureza dos nossos desejos? Devemos dizer a quem tem desejo por álcool que deverá buascar formas de consumir mais ou de entender de onde vem esse desejo? Devemos satisfazer os nossos desejos e ficar irritado quando não conseguimos ou entender o quanto Ego nos engana dizendo que merecemos isso ou aquilo e personaliza tudo?

Diante da dor, precisamos entender o quanto disso reside nas coisas que permitimos, nas pessoas com quem aceitamos conviver, no contexto que acreditamos que precisa ser suportado... no nosso senso de auto-importância. Como temos sido engandos pelo próprio desejo de ser isso ou aquilo? - Não temos inimigos e ninguém poderá nos ofender se enfrentamos o nosso ego e seus desejos.

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