quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Soluções inividuais para África, não passam de pura masturbação egóica!

Eu sei, tu sabes e nós sabemos. Adoramos a ideia do negro que veio do nada e através de uma luta contra o Golias sistêmico, ele vence e impõe ao mundo a sua estética. A África parece vencer. O público aplaude, temos motivo de orgulho, de repente Pantera Negra torna-se Wakanda e o Partido Pantera Negra cai no esquecimento. De repente a Lupita Nyong'o do alto do conforto dos seus holofotes é autorizada a passar por especialista sobre africanismo, claro,  desde que não comprometa os meios de produção capitalista e é tida como musa do ativismo negro. Angela Davis torna-se um papel retorcido no armário do esquecimento. 

Por consequência, temos de parar de erigir heróis como se buscássemos representantes por uma África melhor. Primeiro veio o Obama, sentimos orgulho de ter "um dos nossos" ali, bem, não correu muito bem. Outros heróis negros vieram. Um conjunto de estrelas africanas ressurgindo através das grandes gravadoras cantando sobre amor e festa, de repente, Fela Kuti fora do mainstream, Miriam Makeba também e todos os cantores focados em apontar para as falhas do sistema que produz pobreza deixaram de ter voz. O que vende é sexo, alienação, perucas, dreadlocks, todos os traços superficiais do africanismo desde que os seus valores mais importantes não venham à tona. 

Todavia, queremos a jornada do herói capitalista. Ninguém quer ser o gajo que lutou por um mundo melhor e mal conseguiu ter três casas e dois carros e corpos para o seu uso doméstico. Sankara, Lumumba, N'Krumah, ... pálidas lembranças que faz sentido citar mas não viver. Ao fim do dia, queremos sentar no nosso sofá, deslizar os dedos sobre os nossos iphones e foda-se a grande luta. Queremos um influencer para nos dizer que existe uma forma de se dar bem nessa crise. 

Portanto, pouco importa se o chocolate que comemos vem do trabalho escravo na Costa de Marfim. Pouco importa se o nosso iphone tem o sangue de incontáveis congoleses nas minas. Pouco importa se as nossas roupas favoritas cheiram o suor das pessoas mal pagas no Bangladesh, México ou Paquistão. "o consumo alivia o sofredor" - diriam os Racionais Mc's. 

Na verdade, estou só farto dos que acham que os santolas são preguiçosos quando fazem o trabalho por um valor que ninguém na Europa aceitaria. Estou farto de pessoas que querem salvar o mundo, mas estão implorando para que façam parte da festa dos opressores. Estou farto dos que não conseguem perceber que não se trata de cada um lutar para ter carros com pneus maiores, mas sim, juntos construímos uma estrada coletiva. Nunca houve lados, apenas alguns espertos com medo que se apossaram de tudo e criaram uma África que os filhos tentam a todo custo escapar para não voltarem mais. 

Mané, Mbappé ou Salah, ou mesmo Michael B. Jordan, eles estão lá! Nós admiramos os seus feitos, mas as nossas lutas não são iguais! "They don't care!". Beyoncé não quer saber da negra pobre da perfieria do Gana. Ela fala do empoderamento para mulheres burguesas. Jay-z não se importa com os meninos na mina do Congo. Os ídolos negros pop não são nossos amigos e não se importam com aqueles que não lhes possam pagar. Precisamos voltar para o Cabral, DuBois, Sankara e Malcolm X. 

Foda-se Wakanda, isso é apenas masturbação para negros burgueses! Vamos olhar para África real. 



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