Até um tempo atrás acreditávamos num paradigma de desastre como um raio que cai e deixa a todos impotentes e frágeis. Nesse modelo de pensamento acreditamos que somos todos iguais e os problemas afeta-nos todos da mesma forma. O problema nacional de um é negócio de outros. Em situação de dilúio, uns estão na Arca como amigos de Noé e outros são engolidos pelo mar.
Com mais alguns neurónios percebemos
que alguns são mais iguais que outros e a vida só dá segundas chaces e
infinitas chances para os que estão no topo da pirâmide, aqui começa a história
de vulnerabilidade social.
Talvez tenhas um colega que virou motoqueiro por ter estado a faltar aulas
ou a namorar demais, contudo, os que estavam com ele na mesma atividade
encontram-se de fato e gravata numa instituição pública ou fora do país numa vida tranquila. Ao fim do dia, o que não nos contam é que algumas pessoas são
socialmente mais vulneráveis que outras em todos os sentidos
Pensemos, sempre partimos do pressuposto que os pobres são moralmente
melhores, são humildes e se contentam com pouco. Na verdade, eles são
vulneráveis a todo tipo de doenças e condições extremas que desafiam a
moralidade. Aparentemente, o diabo tenta mais aos pobres do que aos detentores
de posses. O pobre é um cliente assíduo
de filme de terror chamado: Desassossego.
O teu amigo rico pode-se dar ao luxo de trocar de curso várias vezes se ele
não se identificar com o professor ou com algumas disciplinas. O teu amigo que
vem de condições melhores, mesmo alcoólatra, será funcional e os estragos
demorarão mais tempo a fazer efeito. Já um pobre, em uma semana de bebedeira incorre
ao risco de acabar mendigando na primeira esquina de capital. Embiragar-se com Whisky velho de 35 anos não é a mesma coisa que ficar bêbado na tenda de cacharamba bebendo álcool à base de pilha sem controle de volume de etanol.
Amor, amizade, lealdade, parece até uma invenção burguesa. O que mantém os pobres unidos é a utilidade e
a necessidade de sobrevivência. Basta olhar para história e conhecer uma legião
de pessoas que abriram mão do amor para entrar em casamentos miseráveis usando
o estômago como bússola orientadora. Na Bíblia está escrito que o amor é
paciente e a tudo suporta, na verdade, a fome é paciente e tem um histórico de
suportar as piores humilhações.
A dominação maior foi fazer as pessoas acreditarem que existe um caminho
justo onde as boas ações serão recompensadas se suportarem bem as humilhações,
afinal, “os humilhados serão exaltados.” Basta entrar na igreja e perceber quem está ali dentro: medrosos, pobres, doentes, neuróticos … Cristo veio para essas
pessoas prometendo um paraíso futuro porque o paraíso artificial dos ricos já
foi criado aqui na terra.
Todavia, quero deixar isso mais patente. Eu sempre fui muito inocente,
acreditava que os meus colegas sedutores possuíam um grande segredo para
conquistar corações femininos. Fora algumas exceções que de fato se empenhavam
em melhorar a si mesmos, boa parte estava na arte de enviar saldos, comprar
telemóveis, pagar saídas e interpretar o papel de um novo rico ou um ungido social. Claro,
quanto mais a moça for pobre mais a tática funciona. A necessidade e a
possibilidade de consumo tem sido chamado atualmente de excitação.
Por consequência, não acompanhe o teu colega burguês que é drogado, o teu
amigo rico fumará liamba até aos 90 anos, já tu, acabarás louco aos 30 anos porque
os contextos não são iguais. O teu colega burguês tem uma família dando
suporte, tem menos estresse, e a alimentação não é imprevisível bem como tem
acompanhamento médico de qualidade para cada espirro. Não acompanhe a tua amiga
que vive de festa em festa bebendo todas e faltando aulas, ela será patroa e
chefe de alguma secção onde estarás limpando o banheiro… ela até acreditará que
se esforçou mais do que tu.
Por fim, se o mundo está afundando como titanic, saiba que uns esperam a morte
bebendo champagne e ouvindo música clássica enquanto outros ratos pobres morrem
afogados sem dignidade alguma. A mobilidade de classe existe, mas enquanto exceção.
E para os bilionários, Titanic afundando e uns helicópteros pairam no ar para os
resgatar. Basta lembrar que em situação de hipertensão, o rico viverá até aos
80 e o pobre morre na esquina aos 50 bebendo chá de uma folha qualquer – vulnerabilidade
social, um caso de amor?