Antes de conhecer algum amigo do filho, os pais perguntavam convenientemente: "Quem são os pais desse teu amigo?" - eles não queriam saber a posição económica, mas sim, os valores sociais compartilhados socialmente. Era uma forma de descriminação mascarada de valores tradicionais e superioridade moral. Tudo isso caiu por terra, desmanchou-se no ar e se tornou mercadoria.
Hoje, para o meu espanto, a camada jovem já não quer saber quem são os meus pais ou a minha religiosidade. O que agora importa: onde trabalho e se vim de Londres ou não. Olham para o carro que ando a conduzir e assumem que já me conhecem ou viro um potencial "lover".
Alguns dizem que a sociedade piorou, não acredito que assim seja, apenas os valores foram reinventados. Tudo pode desde que o dinheiro esteja em jogo. Um bandido bem sucedido vale mais do que um moralista batalhando para sobreviver ao Monstro do final do mês... Dizer que é um homem sensato com valores familiares não serve de nada se não consegues garantir o consumo: de bens, saúde, educação no exterior e pessoas (o mais importante).
Todavia, já havia assistido um movimento que chamo de "alimentar os esfomeados", o novo "freak show". Chego em bares populares e um conjunto de "novos ricos" agregam uns miseráveis e os submetem alguma situação desconcertante. Por exemplo, 100 dobras para mostrar as nádegas, ou 300 dobras para a mulher que melhor rebolar numa dança obscena qualquer. Geralmente os miseráveis entram em lutas hercúleas pelo pequeno almoço que é o dinheiro de uma pessoa que cansado de ficção, decide jogar com a miséria alheia.
Nesse momento, os mais moralistas olham o meu texto com alguma superioridade moral. Contudo, não vou deixar barato hoje. Sempre vi esse tipo de "dança dos miseráveis" repetir diante de mim várias vezes e sem fim. Quando ia aos casamentos onde a parte pobre de alguma família servia ou era convidada para "ajudar" na realização de um baptismo ou casamento qualquer. Eu vi repetir nas histórias de "minás kiás! Eu vi isso repetir com trabalhos desumanos de venda de saldo num banquinho que relembra o navio negreiro e um conjunto de mulheres e crianças submetidas à exposição e escravidão moderna.
A sociedade que normaliza crianças e mães amamentando crianças venderem saldo sem um mínimo de direitos trabalhistas não pode mais se achar melhor que os "london boys" patrocinando lutas entre os miseráveis enquanto jogam dinheiro do alto de uma zona VIP qualquer... ou de uma torre de marfim.
Por fim, é sempre sobre dinheiro, status, carros com pneus cada vez maiores e uma legião de mulheres lutando para o ocupar a poltrona no lugar de passageiro. No fim, a velha elite que se prostitui no trabalho todos os dias sente-se raivosa vendo jovens sem um nome exibir-se desse jeito. E esses jovens que nunca tiveram muita coisa, instalam na cabeça dos jovens um sonho de sucesso estranho enquanto estupidamente brincam com a miséria de um povo guiado pelo estômago enquanto se esbarram para apanhar as notas ou para rebolar o rabo da melhor forma possível em nome da próxima bebida... E os valores têm preço e os preços são os únicos valores santomenses.
... o engenheiro chega em casa, olha o diploma pendurado na parede, os elogios pelo seu trabalho técnico... ele se alegra, agora a mensagem de uma das amigas que financia pedindo dinheiro, mais dinheiro, e ele está entre o leite das crianças e os seus prazeres que compra. Ela o bloqueia, os "london boys" voltaram, ela precisa de libras, o financiador de saldo e hambúrguer é nada agora. Ele tem raiva dos "london boys". - ele também paga pelo prazer como os londrinos, a diferença está no valor, por qual motivo se acha moralmente melhor?! Agora ele entra no seu carro popular e assiste o pessoal passar por ele com carros de motores potentes, a sua namorada está ali dentro sorrindo enquanto bebe "Bar Royal". Agora ele precisa inventar que ao menos ele tem um vigor sexual melhor para se sentir bem consigo mesmo e sua miséria e o seu diploma que vale nada. - No fim da noite está pedindo copo de whisky aos mesmos que diz odiar.
... e levemente esses valores adentram-se na política, no imaginário social ... um novo Deus Capital sendo forjado na esquina de uma nação com sintomas patológicos... agora sim, todas as relações são intermediadas pelo dinheiro, o doce e vil metal! - somos todos fantoches do dinheiro e com fetiches pela mercadoria ao fim do dia, poucos escapam desse quadro patológico