Sempre tentam nos convencer que as pessoas perderam os valores que
anteriormente foram basilares da nossa sociedade santomense. Evocam valores
como: dignidade, solidariedade, orgulho, vestir-se correctamente, conduta
sexual cristã e outras coisas que se tornaram conversas que brilham que nem
latão enquanto os mais conservadores tentam nos convencer que é ouro.
Quero abordar alguns
pontos convosco de forma despretenciosa:
1 – Promiscuidade não é um problema atual, nem é uma questão de valores,
é um problema socioeconómico – Desde criança todos nós ouvimos falar na tradição
das catorzinhas, dos homens que foram buscar mulheres nas roças como quem
compra porco para formar família. Invariavelmente histórias das mães que
fugiram com outro homem para Portugal, ou de homens que assumem crianças que
parecem muito com o vizinho… mais do que isso, homens com trinta filhos e
múltiplas mulheres. Homens que não saberiam dizer quantos filhos possuem ou os
nomes de cada criança. Incrivelmente é essa gente que vem nos dizer que a
juventude é promíscua e a sociedade está em decadência. Se sobrevivemos aos
pedófilos de carteirinha e aos polígamos e senhoras de moral duvidosa, vamos
sobreviver à actualidade. A nossa geração apenas trouxe à luz todos os
problemas que sempre existiram. Essa geração que oficializou ”mulher de casa” e
“meio-irmãos”, nada tem a nos ensinar sobre condutas retas, eles nunca foram
retos.
2 – Os jovens não inventaram o álcool – Sempre tentam tachar os
jovens como alcoólatras, bêbados incorrigíveis e um bando de preguiçosos feitos
zombies ao toque do etanol. Bem, os antigos sempre fizeram terapia alcoólica. É
a mulher num casamento destrutivo que se mata levemente com vinho e cerveja. É
o teu tio que toda hora está bêbado e ninguém te explica o motivo e preferem
dizer que é trabalho de um curandeiro abade qualquer. Álcool é um problema
nacional, precisa ser levado mais à sério. Mas, é um sintoma e não a causa como
muitos querem nos fazer crer. Essa gente que está bebendo a maior parte está buscando
uma fuga rápida para o sistema que asfixia. O desemprego, o baixo rendimento, o
desassossego matrimonial, a insegurança alimentar… isso o aflige, daí que a
taxa de alcoolismo é mais visível em lugares pobres. -Eles não são pobres
porque bebem, eles bebem porque são pobres.
3 – A fraternidade e a amizade que se perdeu? – mais uma história mal
contada. Na minha geração os irmãos ainda se falam. Pergunto aos mais novos,
quantos tios que não falam mais com os teus pais ou a quantidade de pessoas que
não se falam por vários motivos idiotas? Essa gente pode de facto dizer que já
não valorizamos a amizade?! Quantos deles foram roubados por camaradas do
partido e já não se falam? Quantos foram burlados e quase perderam a vida ou
enlouqueceram?! Quantos perderam a mulher para um amigo “inflacionador de
mercado sexual”?
4 – A nova geração é materialista, só pensa em dinheiro e ostentação
– A maior mentira de todas. A geração que recebeu casa de graça, que invadiu
casas e hoje se apropria com alguma altivez, não é menos materialista que nós.
Essa gente que brincou de mágico do Oz com dinheiro de campanha, comprou carros,
mandou mil mulheres para bolsas em Lisboa e outros países, nada pode falar dos “novos
ricos” que fazem a mesma coisa. Aliás, é a mesma geração que patrocina as
minhas colegas mais ambiciosas. A geração que aceitava um homem com várias
mulheres desde que traga dinheiro para casa nada tem a opinar para a sua filha deslumbrada
por euros e libras. A filha ainda vence em quesito imaginação. Os que faliram
empresas públicas em nome dos prazeres da vida, só nos pode ensinar o caminho a
não seguir, deixem-nos trilhar os nossos caminhos à luz de novos erros.
Deixem-nos criar os nossos próprios pecados.
Por fim, agradecemos pelos vossos acertos, nós vivemos as vossas falhas e acertos. Muitos andaram de laguna enquanto o povo queria arroz. Outros tiveram a visão de aprovar pena de morte no país onde por sorte, não morreu alguém. Um foi pioneiro no multipartidarismo. Outros fizeram leis à medida para um ou outro, Fradique que o diga. Outros distribuíram terrenos com critérios misteriosos. Não tem problema, é algo global, existe em toda parte.
Mas o cinismo, essa
forma de delegar problemas para a futura geração, isso sim é o maior pecado da
geração que nos antecede. Deixe-nos inovar, somos a primeira geração que quer
viver à margem do Estado, sem prebendas, mas empreendendo o próprio futuro. Deixe-nos
provar do nosso próprio veneno, espero que tenhamos a hombridade de ser honestos com a futura geração. Espero que chamemos os porcos pelos seus
verdadeiros nomes, como a geração passada não fez com a nossa.