Tinha considerado que aquilo era um não assunto. Contudo, a forma leviana
como tudo ocorreu acabou se tornando uma boa matéria antropológica para
entender o que a sociedade santomense tem se tornado na esquina da nossa
civilização. Se o pessoal usa ou não medicamentos para ficar erecto, isso nunca
foi a verdadeira discussão. Quem foi o alvo das más línguas? quem são essas
pessoas que criticam e em qual contexto? Eis aqui o crème de la crème. Logo, sigo em alguns pontos que achei relevante:
1 – A ideia de vergonha social ou familiar deixou
de existir
O santomense que se sentia mal por ter o seu nome na boca do povo deixou de
existir entre os pobres. As moças se expuseram de todas as formas possíveis,
sem levar em conta que os seus vizinhos estavam vendo, se os seus familiares e
amigos pudessem se envergonhar dos seus actos. É como se a moralidade como
conhecemos no passado não fizesse mais sentido. Ninguém tem moral para criticar
2 – O dinheiro está acima do bem e do mal
Se antigamente a questão era: “quem são os pais desse jovem?” quando uma
moça apresentava o namorado, aparentemente, basta dizer que é “tranchado” e
todas as deduções decorrem disso. A moça falou na casa que construiu, do
negócio que montou, exibiu todos os troféus materiais deixando implícito todas
as habilidades “empreendedoras” que acabou usando para produzir suas riquezas
desde a tenra idade. E o escândalo é apenas falar que alguns homens tomam viagra?!
3 – Consumo, logo existo.
Nada me tem chamado mais atenção como as festas que tenho tido a honra de
participar. A parte VIP fica mais lotada do que o lugar comum. Facilmente se
nota uma sociedade que todo mundo se acha acima da lei, especial. Todo mundo diz
ser amigo íntimo de alguém influente, acha que é especial e para
obter o viés de confirmação, um copo de whisky na mão e estar na mesa onde
garrafas são abertas sistematicamente. É claro, vejo mulheres erguendo “Bar
Royal”, luzes que piscam do Iphone mostrando que usam algo importante e estão
causando alguma inveja nas “inimigas”. Mas só se vê gente vazia erguendo copos,
olhando corpos.
4 – Mulheres pobres e a comoditização
As mulheres pobres só podem contar com o corpo. Logo, quem as paga tem o
total controlo sobre seus corpos e mentes. No capitalismo local, elas existem
na medida que podem ser transformadas em objecto de prazer. Em algum momento
elas acreditam que as bebidas, o dinheiro, as festas já pagas devem-se a quem
elas são enquanto humanas, o que é mentira, espera-se que elas possam dar o
corpo, mesmo que seja em forma de pagamento futuro, mas elas não saem desse
objecto de consumo. E calculando a desigualdade epistemológica, elas não
conseguem desenvolver habilidade alguma na primavera da beleza, e no fim,
acabam desengonçadas por uma dieta baseada em cerveja e hambúrgueres e sem habilidade profissional
alguma, estavam em algumas festas e não tinham tempo para tal. Então, o homem santomense
anda na rua como quem anda olhando vitrinas, é um potencial comprador, olhando
vitrinas humanas e empurrando seu carrinho de “pulsão sexual”.
5 – Nunca foi um caso sexual, mas sim, socioeconómico
As mulheres maldizem dos homens tentando fragilizar a sua potência sexual, é
um facto. As mulheres pobres iriam criticar os “londrinos” que possuem algum
dinheiro e causa alguma inveja social, outro facto. Elas não criticam o
motoqueiros e outros derrotados socioeconómicos, eles sequer são assunto. Da mesma
forma as mulheres que se sentiram escandalizadas, geralmente são burguesas que reproduzem
o mesmo sistema social. Elas não defendem os bons valores, defendem suas
imagens sociais. Eu vi muitos homens aplaudindo a acção das moças. É como se
eles dissessem: os londrinos podem ter todo o dinheiro do mundo, mas eu tenho a
pulsão sexual, um pénis maior, algo do género. Ou seja, meros invejosos
contemplando a própria insignificância. É o mesmo princípio que nos faz achar
ricos depressivos, mulheres bonitas superficiais e os alunos mais espertos da
sala parecerem anti-sociais e virgens.