Embora as pessoas falam diariamente sobre a necessidade de mudança, não há nada que mais assusta do que a mudança de facto - dessa vez falo para mim mesmo, sem superioridade moral alguma, estamos todos naufragando.
Quando era só uma criança, eu conhecia as pessoas pelo nome. Atualmente, essas pessoas foram engolidas por instituições onde estão. Deixaram de ter nomes próprios, e exibem o nome comum - tornaram-se enquadrados, já quadrados, puderam ser sobreviventes. Um é Senhor Diretor, outro é CEO, o mais sortudo é o Fulano desta ou daquela Organização.
Nessa senda, sobrevivência é o eterno marco zero, mas é o caminho escolhido por quase todos. Para muitos colegas que tenho visto, e às vezes em mim mesmo, viver é só não morrer tão cedo e conseguir pagar as contas. Quando se questiona o motivo de querer se manter vivo, poucos saberiam responder, inclusive eu. Então, aparentemente estamos aqui para ficar vivos o máximo de tempo possível, uma espécie de concurso entre pianistas para ver quem toca por mais tempo sem levar em conta a qualidade performática
Sentado em mim mesmo, outras questões começam a surgir... porquê tanta preocupação em conforto ou tempo de vida e não sobre a criação de algo significativo?! É só isso? - trabalho, casa, mulheres, bebidas, distrações, mais distrações, e por aí segue até que a felicidade e o prazer pareçam a mesma coisa?!
Todavia, sempre imaginei que se poderia usar o nosso tempo limitado para a criação de algo mais consistente. Algo além de nós, um "porquê" que suportasse qualquer "como". Nossos pais nos contam histórias de personalidades como Mandela, Amílcar Cabral, Lumumba, ... e em silêncio fazem-nos seguir o caminho totalmente oposto, como se isso fosse uma burrice enquanto nos dizem que foram modelos de homens. Eles não podem ser seguidos, fazia sentido, por mais que se ame a revolução, ninguém quer terminar na cruz, pois, a cadeia com grades de ouro, Tv plasma, ar-condicionado e algumas strippers é melhor que o deserto do real... não se trata mais de liberdade, mas de quem encontrou a melhor forma de se distrair até que a morte chegue.
A revolução está aí na esquina, na ausência de medo, enquanto medrosos não podemos ser livres! No medo que o emprego torna-se uma gaiola, o chefe ganha super-poderes e o Estado torna-se um verdadeiro Leviatã. Não temos nada a temer, nada poderá nos atingir, a morte é certa. O sonho mais louco pode ser perseguido... nada poderá ser levado, estamos, enfim, livres! Nesse pálido ponto azul a revolução não precisa de massas, não precisamos convencer alguém, basta sermos fiéis aos nossos princípios!