O que eu acho mais interessante em todas as narrativas políticas, muitas vezes é a capacidade de o discurso ser incoerente e fazer sentido para toda a gente. Quanto mais estranha for a narrativa, mais as pessoas parecem seguir o baile ainda mais alienado.
Vejamos, todo mundo sabe que os custos são pesados para se reconhecer a assinatura, autenticar documentos, pedir o registo criminal, a certidão de narrativa simples e completa, o atestado médico … e por aí vai. Então, uma das promessas seria baixar os custos dessas documentações que são exigidas no processo de recrutamento público bem como a ausência dos mesmos ser a causa de desclassificação no processo. Logo, tirar 5 dobras ou 10 dobras do valor de cada documento faz algum sentido? - Não, e eu explico o motivo.
Tomemos nota, pode-se facilmente olhar para o que ocorre em outros países. Na fase inicial do processo, basta não exigir esses documentos, apenas uma declaração que a pessoa possui ou as cópias não autenticadas das mesmas. Não custa nada. E caso a pessoa seja contratada, após as provas e as entrevistas, agora sim, deveria apresentar esses mesmos documentos. Algo simples e lógico. Alguém ainda poderia falar sobre o custo de realização do processo. Tudo bem, mesmo que cada concorrente pagasse uma taxa de inscrição de 300 dobras sairia muito mais barato que da forma como ocorre atualmente. O pior, não podemos reaver esses mesmos documentos após reprovar ou desistir do concurso.
Com efeito, não acredito que seja uma ignorância pública, temos gênios em cada esquina desse país. Talvez estejamos diante do lobby do Registro Civil, precisamos pagar os emolumentos da nossa aristocracia laboral ou é uma forma das Finanças ganhar em cima de cada jovem ambicioso que deseja prosperar na função pública. Ou ainda, uma hipótese mais sombria, trata-se de uma crise de confiança social. Precisamos apresentar todos os documentos chancelados pelo Estado como prova de que estamos falando a verdade, ou seja, o Estado desconfiando do seu povo, e o povo por sua vez desconfia de todos os concursos públicos. Tanto a vitória como a perda no concurso público é desacreditada. Quem ganha tem medo de pavonear que passou e precisa fazer longos discursos sobre a sua legitimidade, e logo um grau parentesco ou partidário é visto. O derrotado sai sempre ressentido, acreditando que um mais idiota passou por alguma influência e de lá adveio a sua derrota.
Logo, é imoral a exigência de documentos a priori que custam fortunas e tem um uso limitado de tempo, bem como não são devolvidos após a perda no concurso público. Devemos racionalizar o Estado. Invés de cobrar menos, que tal não cobrar? Todos ganham!